segunda-feira, abril 15, 2013

Portugal


1867

“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações."

"A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse."

"A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva."

"À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espetáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.” 
 “Ordinariamente, os políticos são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a conceção, nem o espírito político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, por vaidades e interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e interesse de camarilha, será possível conservar a sua independência?” 
“Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”
“Este governo não cairá porque não é um edifício.Sairá com benzina porque é uma nódua”.

1872

 "Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal" 
 
1872
“Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não- pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.”
1900
“Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
José Maria de Eça de Queirós





quinta-feira, abril 11, 2013

Emplastro

Quase o único a concordar.
Figura com notoriedade, conhecido pelo recato, ponderação e tranquilidade assertiva nas suas comunicações públicas, desta vez veio defender o indefensável.
Com esta atitude, o protagonista transmitiu uma imagem de subserviência ao poder. Presidindo a um órgão independente, era suposto que se posicionasse - se necessário, porque parece não o ser - de forma imparcial e sem comentários opinativos.
De facto, a Portaria emitida pelo Sr. Ministro de Estado e das Finanças que impede as instituições públicas de celebrarem aquisições e contratos sem o seu lápis azul, quer de prestação de serviços, quer de consumos correntes, ainda que "compreensível" para alguns (poucos) porque "é preciso identificar abusos", acaba por parar o país. Se se pretende identificar atos de gestão danosa e abusos nos processos de aquisição de bens e serviços de consumo corrente, há que dar condições aos diferentes serviços de auditoria interna e de fiscalização para que desempenhem as suas funções com dignidade profissional.  
Precipitações como esta, acabam por gerar entropias e turbulências prejudiciais à economia e à qualidade da prestação do Serviço Público e não o contrário.
Por estas razões, perdeu o sr. Presidente do Tribunal de Contas, dr. Guilherme de Oliveira Martins, uma oportunidade de ouro para estar calado.

terça-feira, abril 09, 2013

Rumores

Andam por aí uns rumores preocupantes sobre o futuro do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo - Hospital José Joaquim Fernandes.
Os rumores são sempre problemáticos porque arrastam sempre consigo verdades. Diz-se, vai-se dizendo e tanta coisa se diz que alguma há-de ser verdade.
Consta-se, então, que entre outras coisas, há intenção da tutela de reduzir a capacidade de internamento cirúrgico para apenas 15 camas e acabar com oncologia, entre outras coisas.
Não se percebe bem os fundamentos desta eventual intensão. Afinal os rácios apurados para Beja são idênticos aos rácios apurados para Évora. As variações - imagine-se - são de 0,1 para mais ou para menos.
O mesmo já não acontece com o litoral e com Portalegre que têm rácios mais elevados e não se consta que venham a sofrer diminuições das respetivas capacidades instaladas.
Estas estatísticas feitas nos gabinetes têm destas coisas. Vem sempre à memória a história em que 3 pessoas comeram 3 frangos. Estatisticamente, cada pessoa comeu 1 frango. O problema é que, depois, no terreno, vem a descobrir-se que uma dessas pessoas comeu 2 frangos.
Os baixo alentejanos têm de se unir nos esforços de puxar a corda para o mesmo lado. Os interesses da região devem estar em primeiro lugar. Se a classe política não se mexe, mexa-se a sociedade.
O CHBA tem de estar apto para servir a população do distrito e evitar que os utentes do SNS tenham de se deslocar para fora da região. Deve, a meu ver, inclusivamente, apetrechar-se de especialidades clínicas que hoje não possui e para as quais os pacientes têm de recorrer ao privado, localmente, ou sair para outras regiões. Sobretudo, não deve diminuir-se ou acabar com aquilo que funciona bem.
A redução de custos de exploração não se faz de forma cega, cortando a direito, sem atender às particularidaes. O saneamento deve ser estratégico, ponderado e articulado. Nas pequenas coisas, por ano, conseguem-se ganhos de poupança de dezenas de milhares.
Por exemplo, não se vê preocupações relativamente à sustentabilidade energética dos edifícios quando estiveram disponíveis fundos para a instalação de equipamentos de energias renováveis. Não se vê preocupações em utilizar TIC para diminuir drasticamente as despesas com comunicações. Denota-se algum relache quanto ao controlo das utilizações dos materiais de consumo corrente, de natureza médico cirúrgica (gavetas deixadas abertas no sistema, por exemplo).
Enfim, há muita coisa onde se pode ir poupando, porque grão a grão, enche a galinha o papo.
Não pode é poupar-se na prestação de cuidados de saúde, optando-se por não tratar os pacientes porque é caro ou porque está velho. Isso era no tempo de Oliveira Salazar.

quinta-feira, março 28, 2013

O Alemão

De há mais de 20 anos a esta parte que Portugal anda a arquitetar a situação estrutural em que se encontra e ainda não atingimos o fundo.
Quando aderimos à então Comunidade Económica Europeia, fomos padronizados com a idéia de que seria a solução milagrosa para não voltarmos a ter necessidade do Fundo Monetário Internacional. Iriamos ser pródigos, desenvolver, modernizar, elevar o padrão de vida e construir uma classe média de banda larga e sustentada.
Estavam em voga as expressões convergência real e convergência nominal. Hoje constatamos que, nem uma nem outra, foram alcançadas.
Como nos adoçaram a boca?
Pagaram-nos para não produzir.
Na agricultura, set asside; na pesca, abate de embarcações; na construção naval, encerramento da LISNAVE e SETNAVE; na metalomecânica, encerramento da SOREFAME e da Siderugia Nacional; na indústria textil, encerramento de quase todas as fábricas; no calçado, a mesma coisa; na trefilaria, também. E por aí fora.
Aderimos ao Euro. Com ele, vimos inflacionar o custo de vida como nunca tínhamos visto antes. Nem com a intervenção do FMI.
Para quem foi conveniente esta situação?
Sobretudo, à Alemanha.
Vendeu maquinaria agricola a quem recebeu fundos para o setor; vendeu máquinas à China para produzir texteis a baixo custo que a Europa importaria; vendeu barcos de pesca a quem recebeu fundos para o efeito; vendeu maquinaria para quem recebeu para produzir calçado, vendeu submarinos; vendeu equipamento eletropropulsor para produção de material ferroviário; vendeu tudo àqueles que receberam apoios.
Iludidos com tanto dinheiro, esqueceram-se os Estados beneficiários das comparticipações nacionais que tinham de cumprir e vieram os défices estruturais. Portugal deixou de produzir riqueza; passou a consumir.
Constatamos agora que a Europa nos ludibriou.
A Alemanha esteve a pagar os resultados da guerra durante 50 anos. Essa obrigação terminou. Agora quer recuperar a todo o custo o dinheiro que teve de dar de indemnizações aos Estados que dela foram vítimas. E não perdeu a sua intenção hegemónica de domínio da Europa.
Detenhamo-nos sobre as últimas declarações do ministro das finanças alemão.