Como qualquer cidadão empenhado, tenho dedicado algum do meu tempo a apreciar comentadores que proliferam nos diferentes canais televisivos e radiofónicos, com o objetivo de estabelecer parâmetros de referência para os meus pensamentos. Nessa busca de informação efetuada nos últimos 60 dias, não dei por ninguém ter falado da
inflação.
De forma muito simples, define-se inflação por
subida generalizada dos preços.
Qual tem sido o comportamento deste indicador macro económico em Portugal?
Vamos utilizar o referencial do mês de julho.
Em julho de 2008, a inflação foi de 3,025%;
Em julho de 2009, de -1,491%
Em julho de 2010, 1,816%
Em julho de 2011, 3,175%
Em julho de 2012, 2,772%
Verificamos que, num dado momento da nossa história económica recente (2009), tivemos uma
deflação; isto é, uma
quebra generalizada dos preços. Deixo aqui um desafio para encontrarmos razões para que tal tenha acontecido (vamos descobrir coisas muito engraçadas).
No ano seguinte, voltámos a ter inflação, embora em valores aceitáveis.
Em 2011, quase que duplicou para se situar nos 2,772% em 2012, sensivelmente uma décima acima da média da zona euro.
Em 2009 não havia medidas de austeridade e tivemos deflação. Significa que houve um estado de espírito na sociedade que alterou comportamentos de consumo, tendo estes conduzido a uma quebra muito significativa dos preços no consumidor. É importante analisar que preços contribuíram para esta quebra.
Não é de admirar que em 2010 a inflação surgisse, de novo, atenuando a deflação do período anterior. Já não se pode dizer o mesmo de 2011, com as primeiras medidas de austeridade implementadas.
A maneira mais fácil de combater a inflação é
retirar massa monetária de circulação. Como é que isso se faz? Com carga fiscal e, concomitantemente, quebra dos rendimentos das famílias.
As medidas de austeridade implementadas até agora é o que têm feito: por via fiscal, retirar dinheiro às famílias com tributações diretas e indiretas e, ao mesmo tempo, diminuir o rendimento do trabalho.
Como os salários eram atualizados com base nos indicadores da inflação, em boa verdade, quando houve deflação, deveriam ter descido na proporção. Não aconteceu. Mas também mantiveram-se congelados na maioria dos casos, por anos sucessivos.
Bom, mas agora o cenário é outro. As famílias ganham menos e pagam mais. E que preços subiram?
Os mais notórios são os que contribuem para os encargos permanentes das famílias; isto é, aqueles sem os quais a vida não se pode sustentar: habitação, seguros obrigatórios, energia, água, taxas e derramas aplicadas nas faturações de água e energia. De seguida, as despesas com saúde e educação. Depois, os encargos resultantes da vida em sociedade: transportes, comunicações, vestuário e calçado. Finalmente, higiene e conforto e a alimentação.
O Estado tem vindo a demitir-se da sua função social e tenta fazer transitar o ónus dessa missão para os cidadãos. Liberta-se de encargos com a cidadania.
Supostamente, o défice deveria baixar mas os indicadores mostram que subiu. E a inflação não baixou de forma significativa.
Ganhamos menos mas pagamos mais.
Então, porque razão a retirada de massa monetária de circulação por via dos impostos diretos e indiretos não é acompanhada da baixa da taxa de inflação?
Porque a receita aplicada contribuiu para a subida generalizada dos encargos fixos das famílias.
Por incrível que pareça, a alimentação representa pouco mais de 25% das despesas mensais.