terça-feira, dezembro 21, 2004

Meu caro António José Brito

A Quadra que se avizinha é propícia à formulação de votos. E não deixarei de o fazer tendo em conta a proximidade da maratona eleitoral de 2005.
Quando soube que ía ser nomeado para dirigir o DA, fiquei satisfeito e comentei de mim para mim: de todos os nomes, é o melhor.
Efectivamente, durante um período de cerca de dois anos, o DA evoluiu positivamente, globalmente falando. Sobretudo deixou de ser o órgão oficial do Partido Comunista e alguns colunistas políticos de cordel deixaram de ter espaço por falta de qualidade dos conteúdos.
Mais recentemente, começo a não ter paciência para ler os comentários da maioria dos colunistas residentes actuais, com especial destaque para os políticos, evidentemente. Conhecendo-os como os conheço, as suas publicações não passam de operações de marketing (do jeito das notícias a propósito do encontro Milenium com empresários da região, não sei se está a ver).
E aborrecem-me ainda mais os comentários de cordel dos meus correlegionários. Os outros não me incomodam; fazem o seu papel e há muito que ninguém lhes liga.
Com a aproximação da batalha eleitoral - que durará mais de um ano - a imparcialidade do DA deve ser uma bandeira. Outra das bandeiras deve ser a qualidade e oportunidade das opiniões dos comentadores políticos. E sendo socialista, muito desgostoso ficaria se visse o DA deixar de ser comunista para passar a ser socialista.
Sei que não é fácil dizer a algumas pessoas que o que escrevem não reúne a substância necessária e suficiente; os mais ortodoxos acusá-lo-íam de censor. Mas um director de um jornal com a projecção do DA tem de assumir o bom e o mau.
Por mim, continuo a pensar que é capaz e, por isso, digo aqui aos meus prosélitos que escrevam apenas quando tiverem algo a dizer com interesse para os outros e não quando têm necessidade de atingir alguém ou um qualquer orgasmo intelectual.
A partir de agora, os socialistas não podem proferir nem banalidades nem enormidades.
Para si, António, bom trabalho e Boas-Festas, extensivos à totalidade dos seus colaboradores.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Zerinho

Não têm conta as vezes que o tema foi abordado no F&O. Não têm conta as deixas que os comentadores foram formulando ao longo do tempo. E afinal parece confirmar-se aquilo que ía sendo evidente: o Engº. João Paulo Ramoa corre o risco de ficar para a história classificado como sendo o Governador Civil do Distrito de Beja do pós 25 de Abril que menos produziu.
Consegue ultrapassar pela negativa Luís Serrano e Manuel Masseno no seu 2º mandato.
Uma pobreza confrangedora.
Tendo em consideração o seu status, formação e condição de vida, a sua ambição de encabeçar a lista por Beja do PSD às intercalares e de ser candidato a candidato à presidência da Câmara Municipal, convenhamos que é muito pouca obra para tão grande estômago.
As incoerências dos discursos e entrevistas, a passividade face às nomeações, deixaram-no sempre mal na pose oficial. Então em matéria de desenvolvimento sustentável do distrito, nem é bom falar. Nunca se conseguiu perceber bem quando queria estar em sintonia com o Governo e em sintonia com as suas ambições.
Por seu lado, o gabinete ía fornecendo a imagem de condomínio fechado que passeava de Volvo sempre que havia uma visita de Estado, uma inauguração ou um bailarico. Péssimo retrato para aqueles que mal conseguem sobreviver com o rendimento auferido cada mês, depois de lhe terem sido sugados os impostos.
Há muito que defendo o fim do Instituto Governo Civil; a sua existência não faz qualquer sentido numa democracia que se quer amadurecida. Todavia, tal só pode acontecer com um processo de reforma do Estado em que se implante um sistema sério de regionalização, em consonância com as sensibilidades das populações e não com os interesses das elites dominantes.
Imagine-se em Beja, por exemplo, a engenharia civil, obras públicas e privadas, sob o controlo de um clã familiar.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

O povo

O PR veio dizer ao país das razões que sustentaram a sua posição de dissolver a AR, sem demissão do Governo.
Nestas circunstâncias - e no cumprimento da Constituição - o Decreto de dissolução do Parlamento será assinado e produzirá os efeitos que se conhecem, dentro em breve.
O Governo continuará em funções mas advertido de que, se continuar no abuso das nomeações, o PR agirá e torna-las-á nulas.
Os comentadores apressam-se a esgrimir das suas visões e interpretações, consumindo tempos de antena nos diferentes canais de televisão superiores aos do PR, Governo e partidos, no seu conjunto.
Excepção para os debates que começam, confrontando os princípais protagonistas do espectro político-partidário.
Mas até agora nada de novo é apresentado pelos dois partidos da maioria: PSD e CDS. A pré-campanha é feita com ênfase na demissão absurda da AR e no facto de o OE ter sido aprovado, porque é bom.
Já me soa a cassete. Os partidos da maioria ainda não perceberam que o PR dissolve o Parlamento porque este já não está em condições para fornecer uma solução competente de governo.
O esforço de criação de factos políticos não consegue agitar os eleitores que consideram que o acto do PR é um bom acto e demonstram que os portugueses atingiram a maturidade política.
A serenidade que demonstram é extraordinária e os serviços do Estado exibem um profissionalismo que destoa das críticas que o actual governo sempre lhes atribuiu.
Queiram ou não queiram, vamos a votos.
O poder retornou ao seu legítimo proprietário: o povo.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Interessante

A entrevista concedida em exclusivo por Mourato Grilo - presidente do Conselho de Administração da EDAB (Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja) - Quinta-feira passada à Rádio Voz da Planície, revelou um pragmático muito seguro, aparentemente despreocupado com a fidelidade política.
Esta aparente despreocupação, a confirmar-se, pode trazer-lhe amargos de boca, à semelhança do que se passa em todos os governos com uma parte representativa dos agentes nomeados que se não deixam intimidar pelas pressões dos correlegionários para cometerem deslizes.
Aprecio pessoas assim.
Deu-nos uma perspectiva geral do estado do projecto e do seu funcionamento, bem como uma síntese do plano, coisa que até agora ninguém tinha feito.
Foi claro quanto a alguns aspectos, nomeadamente ao perfil que entende terem de possuir os restantes membros do Conselho de Administração. Esse perfil, os actuais elementos - da confiança do presidente da Câmara Municipal de Oourique - não têm. Pode mesmo ler-se nas entrelinhas que tais elementos são confrangedores para a prossecução eficaz e eficiente da missão.
O desenho do CA não é, para Mourato Grilo, o mais adequado. Prefere um cenário idêntico ao que utilizou na construção do Centro Cultural de Macau (que tive oportunidade de visitar 2 vezes); isto é, baseado numa equipa de projecto de execução de obra, em sentido lato.
Esclareceu-nos que o lançamento da empreitada não arrancou porque o Estudo de Impacto Ambiental só termina em Janeiro, que as ligações às pistas (corredores) não resultam problemáticas, embora tenham sido suficientes para o atraso da vinda do LNEC e que o Plano Director está aprovado, exceptuando-se a parte urbanística.
Questões relacionadas com a certificação das diferentes autoridades (INAC e NAVE) estarão ainda em processo borucrático.
Como a EDAB não possui tecnoestrutura, está a fazer outsourcing em economia e sustentabilidade do projecto.
A situação dos acessos do lado de S. Brissos já tem compromisso municipal e o IEP - como não consegue fazer andar o IP8 - tem dinheiro para aplicar na via de S. Brissos com que se comprometeu, incluindo a rotunda.
Quanto ao atraso da construção dos edifícios, afirmou que o lançamento do projecto está para breve. Só existe o programa preliminar dos edifícios que é do dono-da-obra. A propósito declinou responsabilidades sobre a aquisição da célebre vivenda indiciando discordar da solução.
Opinou sobre a necessidade da constituição de um quadro de pessoal e referiu-se ao exemplo EDIA (que conheço por ter lá colaborado).
Rematou dizendo que o governo (este ou outro) tem de definir como quer o Contrato de Concessão. Este aspecto classificou-o como decisivo para o sucesso do projecto.
Muita coisa ficou por dizer mas muita foi dita. E a que foi dita já provocou escaldões de orelhas em algumas pessoas.
Não admira; a verdade, mesmo dolorosa, aproxima as pessoas; a mentira afasta-as.
A região ficou a ganhar e talvez a intervenção de Mourato Grilo aja como um abalo telúrico de dimensão relativa, capaz de sacudir o sistema político do PPD/PSD/CDS/PP no distrito. Governador civil incluído.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Finalmente o PR encheu-se de coragem, chamou os bois pelos nomes e comunicou ao PM da sua intenção de dissolver a Assembleia da República. Intenção porque faltam os procedimentos legais que envolvem o processo.
Fiquei espantado com a serenidade com que o país encarou a crise política. O comportamento dos portugueses superou as minhas expectativas, numa demonstração de maturidade acima dos padrões a que estamos habituados.
E o país não parou; continua a trabalhar (não obstante os feriados, claro está). Os serviços públicos - salvo uma ou outra excepção resultante de actos de administração deficientes protagonizados por nomeados de bazar chinês - mantêm a rotina e as actividades de que foram incumbidos de realizar, numa demonstração inequívoca de que os funcionários e agentes são profissionais competentes e dedicados, contariamente ao que o PM e a Tutela têm querido fazer crer para desajeitadamente justificar o excesso de despesa com salários.
Desgraçadamente, com a continuação da plenitude de funções do governo, as nomeações de novos elementos santanistas para substituir barrosistas nos nossos serviços acabam por se concretizar. Pelo menos, com a mais que garantida mudança de política, essa gente arrogante, petolante e agressiva - que nem aos seus perdoa - sairá de crista derrubada mas não deixará de causar entropias, já que indemnizá-los sai caro. E a Nação já tem tenreiros(1) que bastem. Pelo menos não entrarão a fazer sangue como já se adivinhava, tal é a carga de vingança que acoplaram à baioneta.
Por cá, já pareciam baratas tontas desorientadas pelas queimaduras provocadas pelo agarrar desastrado das asas dos tachos fervilhantes, ainda antes de terminada a cozedura.
Política é isto mesmo: ninguém tem cadeira de fundo térmico.
(1) Bezerros mamões.

terça-feira, novembro 30, 2004

Cegueira

Com as últimas sondagens publicadas, o país passou a estar mais consciente de que as percepções individuais sobre o estado da Nação e incompetência governativa são de uma evidência tal que é impossível sustentar qualquer posição favorável à equipa de Santana Lopes.
Neste momento, 55% do universo dos portugueses inquiridos (com projecção para o todo) consideram que a actuação governativa é ou muito má. É o pior resultado, mesmo desde António Guterres com a história do queijo.
Mais preocupante é a revelação de que, entre os apoiantes do PSD e do CDS/PP, 36% acham que a actuação do governo se revelou pior do que aquilo que esperavam.
Bem; resta esperar que o Presidente da República tome a iniciativa que há muito se espera, já amanhã, esgotado que será o prazo dado a Santana Lopes para apresentar uma solução governativa estável. De contrário, constará para a história como o pior PR da II República e o pior desde Carmona.
Evidentemente que um PM instável dificilmente tem soluções estáveis. Por onde tem passado tem gerado polémica.
E se o PM conseguir a remodelação?
Lá se vão os tachitos do Alentejo que recentemente foram conquistados pelos despeitados santanistas ávidos de vingança.
E se o PR resolver dissolver o Parlamento?
Lá se vão embora os santanistas alentejanos que andaram para aí a fazer rolar cabeças barrosistas.
A coisa está preta.
Estas mulheres e homens nunca mais aprendem que o poder é efémero e que tem de ser exercido com humildade.
Cegam de arrogância e petulância.
Quando acordam, é tarde.
Saiem cabisbaixos, com o rabinho entre as pernas.

segunda-feira, novembro 29, 2004

À bolina

O mal-estar geral vivido no seio da coligação está a assumir proporções alarmantes. Antes do anunciado pedido de demissão do ministro Henrique Chaves já a nossa região estava a viver momentos de agitação com anunciadas danças de cadeiras, em consequência das decapitações políticas que começaram a ter lugar em Évora.
O nosso distrito - apesar de geograficamente ser o maior - não tem lugares suficientes para atribuir a todos quantos aspiram ver reconhecida a fidelidade ao líder. E os despeitados não hesitam em apunhalar os que viram contempladas as suas ambições, furtando-lhes os lugares ambicionados.
Não podemos, todavia, medir todos pala mesma bitola. Existem mulheres e homens de carácter que estão na política para servir e não para se servirem. Esses aceitam participar em condições de dignidade e exigem escolher as suas equipas para garantia de estabilidade e máximos de eficácia e eficiência na aplicação das medidas de política.
Evidentemente que estas pessoas não estão disponíveis para que lhes sejam impostos medíocres ou elementos cuja única competência detida é aparecer por detrás do protagonista mais mediático que tem à mão, vivendo da sua sombra.
Hoje a política já não se faz a colar cartazes, colocar pendões, organizar caravanas ou gritar para o megafone. Faz-se pela afirmação da qualidade dos diferentes elementos propostos pelos partidos e em locais e horas devidamente planeadas e com intervenções credíveis.
Político que mente, fá-lo duas vezes no mesmo momento: a primeira e a última. Não mais deixa de ser mentiroso.
E à mulher de César, não basta sê-lo; é preciso parecê-lo.

sexta-feira, novembro 26, 2004

ZFB, já!!

O ministro das finanças - Bagão Félix - acaba de recuar na sua intenção de mexer no off-shore da Região Autónoma da Madeira. A garantia de que tal vai acontecer foi dada pelo deputado social-democrata do PSD, Hugo Velosa.
O ministro Bagão Félix está a tornar-se um diz-que-disse-mas-não-faz, tal é a quantidade de coisas que já anunciou e recuou. Veja-se o caso do director-geral das Contribuições e Impostos e do seu salário de príncipe.
Sendo assim, para o arquipélago-jardim, o artigo 46º do IRC irá ter mexidas para esse fim e os benefícios fiscais concedidos à Madeira não vão ser considerados para o cálculo do limite de 60% de tributação efectiva, como se prevê no artigo 86º do CIRC.
E lá continuamos nós - quais cubanos continentais - a largar do nosso bolso para que a Madeira continue a ser um Jardim.
Mas o mal não é de desprezar. Vejamos; se já existe uma ZFM (zona franca da Madeira), porque não criarmos uma ZFB (zona franca de Beja)?
Pelos vistos, fiscalmente falando, é o que está a dar.
Até temos uma versão sintetista e minimizada do ícon político madeirense - ali para os lados de Ourique - que pode ajustar-se que nem uma luva ao papel de protagonista numa batalha para a conquista (não dos Campos de Ourique, claro) da ZFB.
Vamos pensar nisso?

terça-feira, novembro 23, 2004

Consenso

Não são apenas os baixo-alentejanos que defendem a tese das potencialidades de desenvolvimento sustentado e sustentável da imensa região situada entre as linhas de Portel e a serra algarvia. À vasta lista de autócnes agregam-se outras pessoas com diferentes ideologias, formações, actividades e experiências nacionais e internacionais.
Passo a passo, novos elementos são adicionados ao cimento que une os tijolos da edificação desta unidade territorial indelevelmente identificada, dando razão às vozes que há mais de 50 anos dão alma à idéia de progresso gerido de acordo com o carácter próprio de uma cultura específica, à semelhança de outras regiões portuguesas com especificidades próprias. E são tão ou mais portuguesas que as restantes.
Todavia, existe abertura à inovação, à modernidade, ao progresso científico e tecnológico.
Reconheço que ao longo destes últimos 50 anos, muita coisa mudou para melhor no Baixo-alentejo. Mas existem muitas outras que não se concretizam em virtude das entropias que confrangem a iniciativa e empatam o progresso.
Gente conservadora, interesseira, gulosa que objectiva vantagens pessoais e não vantagens colectivas.
Mas vamos ao que interessa.
No suplemento do Diário Económico Fora de Série, de Outubro, sob o título Personagem: Juan Villalonga, podemos ler que este gestor que trabalhou para a Telefónica, para o BPA e para a Lusotur, afirmou que Portugal pode ter um rendimento per capita, num horizonte de dez anos, superior ao da Alemanha ou ao da França. E avança esclarecendo que a Península Ibérica foi a região do mundo que mais se desenvolveu nos últimos 25 anos e Portugal registou alterações económicas, sociais e culturais mais significativas do que a Espanha. E complementando a afirmação de fundo, reforça que o país e os seus decisores políticos e económicos devem ter uma idéia clara para os próximos 25 anos.
Curiosamente, quando lhe pedem para dar mais exemplos da sua visão para Portugal, afirma: Creio que uma cidade como Beja, por exemplo, se pode tornar uma espécie de Las Vegas da Europa. Hoje Beja é uma cidade do interior, perdida na região mais desertificada do país, o Alentejo. Beja tem condições para se tornar , dentro de oito anos, na Meca do entretenimento e de bem-estar da Europa. Não é difícil de a imaginar, neste horizonte de tempo, com oito campos de Golfe, quinze hotéis, cinco casinos, três centros de rejuvenescimento e três de ioga. Condições não lhe faltam. Mas será necessária a convergência de vontades políticas e empresariais.
Mais comentários para quê?

terça-feira, novembro 16, 2004

O momento

A preparação para a alternativa ao projecto político velho de mais de 25 anos que tem persistido no concelho de Beja impõe-se. Feitas as contas, estamos a 11 meses das eleições autárquicas e ainda se não vislumbram definições. Todos aguardam pelo momento M e não querem assumir o pioneirismo.
Não é fácil escolher o candidato à Câmara Municipal; é preciso que essa figura reúna vários requisitos de alguma complexidade, nomeadamente a satisfação dos critérios dos prosélitos internos das organizações políticas que os suportam mas, sobretudo, que disfrute de um potencial de estado de graça junto da opinião pública.
Para além disso, o factor qualidade passou a ser um recurso estratégico. Qualidade dos restantes candidatos à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal, cujo líder deverá reunir igualmente requisitos particulares de capacidade de liderança, condução de reuniões e de gestão de conflitos de interesses, independentemente da fidelidade política.
Porque os Presidentes de Junta de Freguesia têm assento por inerência na Assembleia Municipal, é igualmente importante que se saiba escolher bem as equipas candidatas para que suscitem a simpatia do eleitorado.
Até agora, o que se tem verificado é que existe uma tendência para a perpetuação da presença de figuras completamente inertes e outras pouco interventoras nos lugares das diferentes listas de candidatos, numa atitude de completo desprezo pela preocupação da fidelização de eleitorado e de conquista de novos eleitores.
Interiorizou-se uma cultura de pagamento às tropas. É candidato quem bajula o líder, quem diz sim a tudo, quem não tem idéias próprias. Quanto mais medíocre melhor, não vá o sujeito puxar o tapete.
A fabricação de actores secundários atingiu igualmente cenários de despudor. Colocam-nos a dizer coisas - como o fazia a prima Jorgina da rábula da ida à guerra do Raul Solnado - empurram-nos para a ribalta e fazem-nos assumir ridículos para proteger o líder de vexames. E, coitados, sem se aperceberem, extasiados pels luzes da celebridade, acabam por ser cobaias destinadas a morrer por uma causa superior.
É vê-los começarem a posicionar-se, a aparecer em encontros formais, como que a desenvolver um marketing pessoal do ó pra mim a brilhar.
O momento é decisivo. É chegada a hora de assentar, conceber a visão do problema, definir a missão, elencar objectivos tangíveis e arquitectar um plano estratégico.
A aplicação das técnicas de recrutamento e selecção usadas em gestão das pessoas pode contribuir muito para uma boa elaboração de listas de candidatos autárquicos. Assim se saiba elaborar bem as respectivas grelhas de definição de perfis.
Porque vamos mudar.

segunda-feira, novembro 08, 2004

As palavras

Começam a ser demasiadas as alusões às questões da limitação da liberdade de expressão, da violação do segredo de justiça, do direito de opinião, manifestação e indignação.
Fala-se cada vez mais no controlo dos weblog's (leia-se eliminar) e surgem notícias de pressões sobre os seus autores e mesmo despedimentos de alguns por influência do poder.
São demasiadas circunstâncias analógicas, sincronizadas e verificadas por unidade de tempo para que não possam ser classificadas como acidentais.
A comunicação social consegue fazer rolar cabeças e, como a vingança é um prato que se serve frio, mandam-se 50 jornalistas para a barra do tribunal. Mas há pessoas em lugares de nomeação que têm sensações orgásmicas na presença de um microfone ou de uma câmara de televisão. Ora, em êxtase, perde-se o controlo racional.
O delito de opinião, supostamente, foi banido do ordenamento jurídico português pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974. Porém, é público e notório que se tenta com demasiado despudor, controlar os órgãos de comunicação social nacionais por via das aquisições e fusões. Os regionais e locais começam a estar à mercê de caceteiros caciquentos.
Este medo da transparência, da verdade só pode incomodar quem não segue as regras da boa cidadania e do cumprimento das obrigações a que todos os cidadãos de um Estado de Direito constitucionalmente consagrado estão vinculados. Aqueles que acham que todos somos iguais mas alguns são mais iguais do que outros.
Segredos porquê?
Quem os conta? Não são os próprios prosélitos os piores dos delatores?
Gente desconfiada não é de confiança, diz o povo.
Preocupa-me este clima de suspeição que começa a viver-se no nosso país; faz-me lembrar outros tempos.
Tantas vezes apregoado, o direito ao contraditório nada adianta ao poder político instituído; não porque não o possa usufruir, mas porque mente tanto quando vem a terreiro que facilmente é despido e ridicularizado na praça pública. E diz igualmente o povo que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo.
O rei vai nu.
Não será restringindo a liberdade de expressão que se reduz a capacidade de intervenção; a história está aí, indelével, para o demonstrar.
É o comportamento dos poderosos que gera o comportamento reactivo da restante sociedade que se defende com a mais eficaz das armas: a palavra. É grátis, não polui e mata que se farta.
Porque as palavras são ideias em movimento quando são bem pensadas. Quando não, leva-as o vento (Paco Bandeira).
E o fruto proibido é o mais apetecido.
Abra-se o jogo; torne-se tudo transparente. Cultive-se a cidadania do tipo nórdico.
E tudo será bem mais fácil. Menos para os que precisam esconder.

terça-feira, novembro 02, 2004

Pormenor

O Parque da Cidade tem cada vez mais adeptos e visitantes.
De facto, os espelhos-de-água, o enquadramento, o espaço, são suficientemente aprazíveis para convidarem a um passeio solitário, ao convívio de amigos, à prática desportiva de manutenção, à descontracção da família, ao entretenimento dos mais jovens.
A imaginação encarrega-se do resto.
Pena é que as infraestruturas e equipamentos tardem em funcionar para apoio dos frequentadores. E não funcionam, em parte, porque a EDP não tem condições para fornecer a energia de que o parque necessita. Faz falta um PT específico porque o consumo supera as possibilidades de abastecimento a partir de outro já existente.
Um pequeno grande pormenor.
Outro é o do civismo. Os danos visíveis já provocados no património demonstram que há necessidade de um sistema de vigilância electrónica. A passagem periódica dos piquetes da PSP não é suficiente para dissuadir essa nódoa negra das sociedades urbanas que é a delinquência juvenil atentadora do património alheio, público e privado. A utilização abusiva dos equipamentos para crianças por jovens adultos vai rapidamente provocar a degradação dos mesmos. O cidadão comum não tem autoridade para impedir tais actos pelo que se impõe igualmente a presença de um sistema de vigilância privada.
Entretanto - e porque infelizmente a educação dos condutores se posiciona a níveis bastante baixos - a zona de acesso ao estacionamento do lado da mata e da escola C+S, é a que apoia a área das equipamentos para crianças. Supostamente, os veículos deveriam circular a velocidades nunca superiores a 30 Kms/hora e respeitar as passadeiras para peões que estão bem implantadas no solo. Prém, o que acontece é que se circula a velocidades excessivas, sem respeito pelas passadeiras e pelas crianças que, supostamente, deveriam poder circular naquele espaço com total despreocupação e liberdade. Pasme-se que alguns dos condutores desleixados e desrespeitadores das mais elementares regras de segurança rodoviária, são mães que transportam os seus filhos de e para o parque.
Perante um cenário destes, impõe-se um plano de sinalização adequado com limitadores de velocidade, o mais rapidamente possível.

sexta-feira, outubro 29, 2004

Alternativa

É muito tempo.
A natureza do poder é perversa; por definição vicia e corrompe.
Eis a razão da existência da democracia: alternância do poder.
Quando assistimos a situações de manutenção de determinadas personalidades no desempenho de funções de poder ao longo de décadas, tal só pode acontecer porque a democracia tem problemas. E os problemas da democracia resolvem-se com mais democracia.
A democracia só pode ser praticada por pessoas inteligentes e de grande capacidade de gestão de sensibilidades e emoções, dadas as suas exigências em matéria de coordenação, participação, delegação, conciliação, negociação, etc..
Quando o poder se prepetua é porque a democracia está doente ao ponto de o deixar de ser. E constroi-se um ambiente propício à manutenção do status quo e das clientelas que suportam o detentor do poder.
Eis o ambiente dos medíocres. Aos medíocres não interessa a democracia porque é muito trabalhosa. Interessa-lhes a ditadura que é muito mais facilitadora.
Mas como resolver o problema quando a democracia permite ambientes de mediocridade propícios à manutenção ad eternum de determinadas pessoas no poder, à custa de clientelas e controlo do eleitorado?
Limitar o número de mandatos de exercício de funções de poder é uma das soluções. A outra é a assunção por parte dos partidos e similares opositores às situações de que só devem escolher os melhores e com melhor perfil para cada uma das funções. Mais do que aos clientes internos, as diferentes associações políticas devem satisfazer os clientes externos. É desta simbiose de interesses que aquelas podem obter sucesso numa corrida eleitoral com o objectivo de mudança de ambientes que acabaram por se tornarem perversos porque corroídos pelo desgaste da viciação.
O concelho de Beja é um case study paradigmático. À alternativa (única) cabe a responsabilidade soberana de apresentar a solução para a mudança e, concomitantemente, a solução de mudança. Rapidamente. Com clareza, aberta e franca, sobretudo com carácter.
A credibilidade das alternativas é muito importante na arquitectura do caminho para a mudança, mesmo sabendo-se que o poder não se conquista. Na realidade, o poder perde-se.
Por isso, deve ser exercido com humildade, embora com determinação quanto baste.
E só as pessoas inteligentes são humildes.
Abra-se o concurso para o recrutamento e selecção do candidato ideal.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Maio em Outubro

Grande filme!
Os homens desempenharam o papel com toda a estética e determinação no acto. O cidadão suspeito, de elevado índice de perigosidade, estrutura física atlética, munido das mais perigosas armas, é eficazmente retirado da multidão, prostrado no chão, esmagado pelo joelho de um policial de intervenção e imobilizado por outro para que o acto de colocação de algemas fosse perfeito, apesar de ter demorado entre 3 a 4 minutos.
Este poderia ser o excerto do texto do roteiro de uma novela de ficção televisiva, alusiva aos acontecimentos estudantis de Coimbra, não fosse o actor principal um jovem caloiro de comunicação social, de 19 anos, franzino, pacato, que não resistiu um nanosegundo aos actos policiais e a quem foi aplicada a medida de constrangimento ( e eles a darem-lhe em chamar coacção!) de apresentação quinzenal na esquadra de polícia da área de residência, apenas por usar de direitos constitucionais: o de se rebelar e o de se manifestar livremente.
A ousadia, a coragem e determinação demonstrada pelos profissionais de polícia envolvidos sobre a cobaia provam que estão aptos a enfrentar delinquentes perigosos sem que aqueles possam pestanejar. Há que os colocar a fazer serviço rapidamente, já que as estatísticas apontam para um incremento da criminalidade violenta.
A meu ver não será muito razoável que passem a utilizar rotineiramente o método de aplicação do treino em prática simulada sobre populações estudantis de meios académicos com tradição de luta (como é o caso de Coimbra) pois os estudantes conhecem a história e lêem-na, adaptando-a em cada momento às circunstãncias. E até hoje (e recuemos apenas até Maio de 68) nunca nenhum Estado ganhou aos estudantes, nem a prepotência vingou sobre a razão e a liberdade. É tudo uma questão de tempo.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Lentidão

As incursões de elementos do Governo da República na campanha eleitoral da Região Autónoma dos Açores acabaram por se pautar pelo desnorte e polichinelo.
Exemplo disso é o caso do jantar comício realizado em Lagoa - Açores, pela coligação PSD / CDS onde, a dado passo de uma intervenção, com alusão a anedotas de alentejanos, alguém as utilizou para dizer que o Governo Regional era "mais lento" do que os alentejanos.
O protagonista da associação do caso de semelhante gafe ao de Carlos Borrego - que se demitiu justamente por causa de uma piada - foi o Ministro Nuno Morais Sarmento.
Não interessa o contexto, não interessa o motivo. O que interessa é o que foi dito e por quem foi dito.
O Sr. Ministro será daquelas pessoas que não pode recorrer à autoridade de princípios que regem as normas de comportamento social aceitável para arremessar pedras aos telhados dos outros. E muito menos para associar a classificação de lentos ou mais lentos do que a quem quer que seja.
Estou perfeitamente à-vontade para criticar este deslize linguístico. Não sou alentejano; sou alfacinha de gema (terceira geração) mas vivo e trabalho em Beja há 15 anos, onde fui bem aceite e me honro de contar nas minhas relações com figuras públicas de relevo de todos os quadrantes políticos, intelectuais e religiosos, bem como de cidadãos anónimos, muitos dos quais me orgulho de ter como amigos.
O Sr. Ministro Morais Sarmento, ao subscrever o apelido de lentos os alentejanos, chamou lenta à sua colega Ministra da Ciência e Ensino Superior que é natural de Beja; chamou lento ao Sr. Governador Civil de Beja e seus colaboradores de gabinete, a dois elementos do Conselho de Administração da EDAB e demais colaboradores daquela Organização, todos do PSD; chamou lentos aos membros do Conselho de Administração da EDIA e demais colaboradores, naturais da região e membros do PSD; chamou lentos a todos os nomeados políticos do PSD que desempenham cargos de relevo em todo o Alentejo; chamou lentos aos políticos alentejanos do PSD; chamou lentos aos empresários prosélitos do PSD que têm iniciativas económicas de sucesso e que colaboram com donativos para as campanhas eleitorais do seu partido; chamou lentos aos habitantes de uma das regiões mais votadas ao esquecimento pelos poderes centralizadores da responsabilidade do PSD; chamou lenta à CCDRA e disse que os Açoreanos eram ainda mais lentos.
Claro que o Presidente do Governo Regional dos Açores - agora reeleito - pediu de imediato a sua demissão. E a comunicação social não fez eco de tamanha argolada política. Tínhamos o caso de Estado do encontro SLB / FCP.
Mas eu reforço: o Sr Ministro Morais Sarmento posicionou-se no mesmo lugar da grelha de partida do Engº. Carlos Borrego, à época Ministro de Cavaco Silva. A credibilidade que eventualmente o consolidava no exercício de funções de serviço público está abalada e, consequentemente, deve tirar as ilações decorrentes.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Ruralbeja

Ou Beja Rural. Tanto faz. O concelho tem uma cultura tipicamente rural e contra isso, só as gerações vindoras podem modificá-la emprestando-lhe mais urbanidade, mais civilidade, mais cosmopoliticidade.
A feira esteve razoável. Opino ter-se tratado de uma boa iniciativa para a implementação de um calendário de eventos de animação do PFEB (parque de feiras e exposições de Beja) que mantenha o espaço ocupado ao longo do ano.
Evidentemente que ninguém está à espera de enchentes como na Ovibeja. Mas é preciso rentabilizar o espaço e evitar os ataques vergonhosos ao património, prepertrados por pequenos grupos de delinquentes que agem à sombra da falta de vigilância permanente.
E é preciso controlar acessos e levar aos calaboços da PSP esses rapazinhos que se masturbam a curtir a ressaca do álcool e das sintéticas, destruindo bocas de incêndio, casas de banho, portas, candeeiros implantados no solo (cujos vidros só com marreta se podem partir), etc.. Se necessário, os papás também podem ir com eles.
Perderam a capacidade de disfrutar as coisas boas da vida; perderam as referências; perderam o sentido de orientação; de selecção entre o que é bom e o que é mau; buscam, cada vez mais e cada vez mais cedo, emoções fortes; qando não se matam e não matam os outros em acidentes brutais de viação, destróiem o que encontram à frente para afirmação de uma personalidade doente, disfuncional e gratuita, em opção àquilo que o comum dos mamíferos faz: marcar o território. Só que as outras espécies marcam o território segundo regras bem definidas e identificam-se indelevelmente. Estes Sapiens Sapiens fazem-no anonimamente. Cobardes.
Mas o espectáculo de Sábado com Pedro Abrunhosa foi excelente. Tenho pena que o espaço - bem composto - não tivesse mais gente. Seguramente que não existe outra oportunidade de assistir a outro igual, em qualquer ponto do país, por apenas € 2,50.
à organização, os meus parabéns e força anímica para ultrapassarem desentendimentos e ganhar coragem para vôos mais altos.
Aos empresários da região, empresas públicas, sociedades anónimas de capitais públicos e privados, uma apelo ao altruísmo para que participem como mecenas ou patrocinadores de espectáculos dirigidos às massas, sejam os designados clássicos ou ligeiros.
O Parque merece; a cidade merece.
Apesar de tudo.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Lápis azul

Não consigo resistir ao impulso de falar do tema do dia. Não se tratando propriamente de uma matéria de debate político regional ou de desenvolvimento local, de forma directa, acaba por sê-lo por afectação lateral.
Tinha 19 anos quando se deu o 25 de Abril. Recordo-me perfeitamente do ambiente que se vivia com a censura prévia e mordaça à liberdade de expressão.
Trinta anos volvidos repetem-se alguns cenários que já tiveram eco durante os governos chefiados por Aníbal Cavaco Silva. Porém, agora com outros contornos e requintes que raiam postulados transcritos por Maquiavel.
As escutas telefónicas, a devassa do correio electrónico, o uso e abuso do telemóvel para localizar pessoas, a via verde para saber da vida de cada um de nós, o cartão Visa para descobrir os amantes, a conta bancária para ver que quotas se pagam e a quem, o SIS, a nova entidade de inteligência de nível superior ao SIS para combater o terrorismo, e por aí fora, são apenas pequenos indícios do que se passa em matéria de controlo da liberdade individual consagrada no Texto Fundamental da República.
Embora se não saiba, ao certo, o que está por detrás da saída de Rebelo de Sousa da TVI - o que se tem visto até agora são snipers a atirar a matar - não deixa de ser preocupante o facto de estarmos perante uma situação inédita. Não há muito tempo, a designada Alta Autoridade Para a Comunicação Social protagonizou o fim do debate em sede de noticiário alargado de Domingo do canal 1 da RTP, com a argumrentação de falta de pluralidade.
A SIC aproveitou o vazio e criou espaços de debate político com participações individuais que vieram a não se consolidar no tempo, não se sabe bem porquê.
Agora a TVI despede MRS e Miguel Sousa Tavares admite sair.
Estas questões merecem um olhar atento do mais alto magistrado da Nação, subsidiariamente do Tribunal Constitucional e, sobretudo, definir-se quem é quem, quem controla o quê e que poderes existem neste país que podem mais do que o poder institucionalizado por mandato político e democrático.
Já não é a Capela do Rato, a Maçonaria, a Opus Dei e muito menos a Carbonária. Estes já não têm segredos. São outros bem mais requintados que ultrapassam o poder financeiro e que fazem gato-sapato dos políticos.
Cada vez vejo mais riscos azuis à minha frente e não consigo descobrir o dono do lápis.

sábado, outubro 02, 2004

Desnivelado

É como está o pavimento novo da estrada da Salvada.
Fiz o percurso que já está circulável e constatei - nos dois sentidos - que o tapete está com sérios problemas de nivelamento e com bermas perigosíssimas. Mais perigosas do que estavam com o traçado velho.
Tem agora uma reta - convidativa a velocidades excessivas - com abatimentos dos lados, completamente injustificáveis, tratando-se de um tapete novo. Dá a sensação que já está em utilização há anos e que os pesados circulam por lá às centenas.
Declaradamente, o acompanhamento da obra não foi feito.
Para além disso, essas zonas de abatimento (significativo) coincidem com locais onde existem autênticas "ravinas" sem "rails" de protecção.
Importa referir que a estrada, para ter duas faixas de circulação de largura aceitável, não tem escapatórias laterais. Daí a importância da instalação de "rails" nos locais onde o perfil, em relação ao solo, está num nível bastante mais elevado.
Numa situação de emergência, as viaturas podem despistar-se e sair da estrada em autêntico vôo.
É suposto que a obra que foi tão desejada e esteve no centro de várias polémicas, venha contribuir para o aumento da segurança de quem nela circula e não o contrário.
Ainda vamos a tempo de corrigir os erros nesta fase e antes de começarem a ser pintados os traços na via.
Já agora, não se percebe muito bem como foram decididos os percursos alternativos para a segunda fase, uma vez que uma parte importante do troço está transitável. E também não se entende porque se optou por "empurrar" os automobilistas para caminhos onde só se deve circular em bicicleta "cross country".
O dono-da-obra tem de ir mais ao terreno.

quinta-feira, setembro 30, 2004

Mudar

Não consigo encontrar uma resposta para a situação. Ela ultrapassa o razoável e colide com os modelos económicos urbanos espelhados nos manuais.
Beja é o concelho do país com o custo de vida mais elevado.
É o concelho do país com uma das mais baixas médias salariais.
É dos concelhos do país com mais carros topo-de-gama e novos por 100 habitantes.
É dos concelhos do país com mais coleta fiscal.
Todos os gabinetes de contabilidade se queixam que quase 25% dos seus clientes lhes são devedores. E que são devedores às Finanças e à Segurança Social.
Para uma população presente que variará entre os 35 000 e 0s 37 000 habitantes, Beja tem comércio e serviços em tal número que faz com que o mercado disponível em cada ramo seja residual.
Praticamente, a indústria é inexistente.
As iniciativas empreendedoras que surgem, destinam-se maioritariamente a solucionar problemas de desemprego dos próprios, insipientes muitas delas e sem potencial de desenvolvimento no futuro próximo ou médio.
Duas das grandes superfícies da cidade praticam os preços mais elevados comparativamente às suas congéneres no país. A razão apontada é que não têm volumes de vendas que atinjam os objectivos. Paradoxalmente são as que, de vez em quando, mais lucros obtêm.
Os estabelecimentos comerciais da cidade não são apelativos nem na qualidade e diversidade de bens, nem no preço, nem no atendimento. O mesmo se passa com os serviços.
Os terrenos, apartamentos e residências são dos mais caros do país.
O litro de gasolina sem chumbo 95 custa apenas €0,89 no Rosal de La Frontera.
A cidade de Beja, ao Domingo, é um completo deserto: sem pessoas, sem restaurantes, sem animação. Todos os comerciantes gostam de estar de fim-de-semana a partir de Sábado à tarde.
As freguesias e sedes de concelho limítrofes têm mais animação ao fim-de-semana do que a capital de distrito.
Os grupos de turistas que nos visitam quase não param. Ao Domingo, os núcleos históricos e museológicos, bem como a biblioteca, estão encerrados.
A Região de Turismo não mais recuperou o sistema de guia pessoal por transmissão electromagnética.
Os sinais exteriores de riqueza exibidos parecem não sintonizar com os rendimentos declarados.
Os poderes públicos instituídos andam anestesiados.
será que não somos capazes de mudar?

sexta-feira, setembro 24, 2004

The dark side of the Polis III

Atribuí ao Parque da Cidade, o terceiro episódio desta novela.
O parque está muito bem conseguido e as propriedades horizontais da Cooperativa Lar para Todos viram o seu valor incrementado algumas vezes. Os arquitectos e engenheiros que o conceberam estão de parabéns.
Todavia, o projecto tem algumas lacunas como o mau planeamento dos acessos por peões e por veículos, a indefinição das ciclovias, a manutenção do caneiro pluvial a céu aberto na vulgarmente designada Rua de Lisboa, os atrasos na implantação dos conjuntos vegetais, das cortinas vegetativas e dos tapetes de gramado e, sobretudo, o esquecimento desastroso do sistema de segurança.
Um parque com estas características não é susceptível de estar disponível sem um sistema de vigilância e segurança de pessoas e bens. A prová-lo estão já os relatos de actos de vandalismo perpetrados contra o património móvel e imóvel do espaço.
É necessário implantar um sistema activo de videovigilância, controlado preferencialmente por uma operadora privada do sector, 24 horas por dia e ligar rapidamente o sistema de iluminação pública.
Só desta forma se evitará a delinquência e a marginalidade, vulgar em espaços semelhantes existentes noutras cidades do país.
É preciso não esquecer que o parque tem espaços para exploração do canal económico HORECA e outros e que os potenciais clientes desejam sentir-se seguros e os operadores verem salvaguardados os seus investimentos.
Por seu turno, a Câmara Municipal deseja gastar o mínimo possível na manutenção do espaço (que é dispendiosa). Quanto a isto, espero que a Edilidade bejense não tenha a mesma atitude que tem com o mobiliário urbano que instalou anteriormente ao Polis: não faz manutenção. As paragens da urbana não são limpas, os bancos não são repintados e as madeiras não são envernizadas. Quanto às papeleiras (que parecem mais um money can peace sem cabeça do que outra coisa), limita-se a mudar o saco de recolha.
Não estou, de novo, a falar de coisas que signifiquem gastos extraordinários ou exurbitantes. São correcções perfeitamente exequíveis do ponto de vista orçamental.

terça-feira, setembro 21, 2004

The dark side of the Polis - II

Provavelmente o enquadramento arquitectónico e paisagístico melhor conseguido de todo o Polis. Falo-vos da Rua de Lisboa.
Também não tem água, mas tem muito verde.
Como não há bela sem senão, eis que se esqueceram de impedir o acesso a veículos automóveis, no final, junto à vidreira. Resultado: estaciona-se no pequeno largo - supostamente para descanso de peões - fronteiriço à porta secundária de acesso ao cemitério.
Igualmente se esqueceram de retirar os painéis publicitários do meio da via pedonal / ciclística junto à parede do cemitério. Mal dá para passar um peão. Imagine-se a dificuldade que um cego ou ou um deficiente motor terão para contornar obstáculos tão inestéticos.
E ainda não ligaram a iluminação pública nova, em altura e junto ao solo, implantada com a obra, concluída há cerca de 2 meses. Pasme-se que se deixaram ficar candeeiros antigos implantados com novos a menos de 40 cm entre cada um!
A iluminação pública em locais ermos como é este - espaço junto à ermida, jardim fronteiriço à Cooperativa de Habitação, Parque do cemitério - impõe-se para segurança dos transeuntes, incutindo-lhes confiança para que se possam fazer passear descontraidamente pelos locais mais aprazíveis da cidade ou praticarem actividades de manutenção física.
Meus caros responsáveis pelo projecto: aproveitem para solucionar estes pequenos pontos negros prque é fácil e barato. Só não dá milhões.

segunda-feira, setembro 20, 2004

The dark side of the Polis - I

Pronto.
A festa já foi, correu mais ou menos bem, teve episódios bonitos e atitudes populares que beliscaram o que podia ter sido um êxito retumbante.
Agora vamos falar do que está menos bem no Polis e do que pode ainda ser corrigido.
Primeiro episódio: Av. Miguel Fernandes.
Apreciei a imaginação técnica da concepção do parque e a excelência dos pormenores. No entanto, o meu sentido estético alertou-me para o impacto da estrutura no conjunto arquitectónico da praça e leva-me a concluir que a mesma deveria ter sido enterrada mais 2 metros do que aquilo que está e dessa forma, nenhuma agressividade seria notada. Por outro lado, subtraiu-se um espaço verde (independentemente de ser bom ou mau) e não se compensou devidamente essa subtracção. E mais uma vez se esqueceu a água.
Os candeeiros do lado do arco de acesso à Praça da República têm as calotes de iluminação ao contrário: a calote do arruamento mais elevado está mais baixa e vice-versa, o que prejudica a eficácia do cone de luz.
Do mesmo lado e junto à sapataria, está um passeio desnivelado elevado, sem grade de protecção e com uma rampa para cadeira de rodas que mais parece um rampa de lançamento de foguetões, tal é a inclinação que tem. Aliás, foi colocada uma grade amovível para que ninguém lá passe, não vá o diabo tecê-las.
Eis um caso de sucesso manchado por falta de acompanhamento da obra.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Os primeiros

Dos trinta-e-não-sei-quantos Programas espalhados pelo país, o BejaPolis será o primeiro a concluir-se dentro dos prazos e a encerrar-se em 31 de Dezembro de 2004, extinguindo-se nessa data a Sociedade Anónima que o gere.
Pelo território existem Progamas congéneres que ainda mal começaram e outros estão em derrapagem grave de execução. Perante tal enquadramento, estão de parabéns os protagonistas do processo: a missão foi bem definida, os objectivos eram exequíveis e foram alcançados e houve capacidade de contornar a maioria dos obstáculos que foram surgindo ao longo.
Em boa hora a proposta oferecida pelo então governo de António Guterres foi agarrada pela edilidade bejense - que o fez de forma determinada - contributo a não menosprezar no reconhecido mérito de toda a equipa.
Estes motivos são suficientes para esquecermos, por momentos, os pormenores menos bons.
Não espanta que a cerimónia de inauguração - sóbria - esteja a ser tratada com carinho e que o Presidente da República tenha feito esforços de agenda para estar presente.
Devem - por isso - os nomes de todos os colaboradores serem devidamente pronunciados, reconhecendo-se-lhes o direito ao reforço positivo quanto baste para manter alimentado o altruísmo.
Precisamos da mobilização dos bejenses para a próxima sexta-feira. Afinal, a cerimónia de inauguração acaba por ser a festa da cidade. O apelo deve começar a ser feito. O BejaPolis merece.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Produtividade

Começo a estar cansado dos disparates proferidos pelos diferentes membros do governo quando abordam o fenómeno da produtividade.
De forma sistemática confundem produtividade com produção quando estamos em presença de dois conceitos diferentes.
Existem ganhos de produtividade quando, no mesmo período de tempo efectivo de trabalho (por exemplo 1 dia de 7 horas), relativamente ao período anterior, se constata ter realizado mais trabalho consubstanciado em aumento de execução.
Ex: Ontem embalei 100 queijos de Serpa; hoje embalei 102, no mesmo lapso de tempo.
Isto é um ganho de produtividade.
Existem ganhos de produção quando, para se obter um objectivo quantificado maior (mais 2 queijos de Serpa embalados), tenho de trabalhar mais tempo (por exemplo, mais 1 hora).
Tendo embalado mais 2 queijos mas tendo trabalhado mais 1 hora, consegui um aumento de produção mas até diminui a produtividade, já que demorou mais tempo a embalar 2 queijos do que cada par de queijos durante as horas normais de trabalho.
Fácil é compreender que a produtividade não depende apenas da vontade autónoma dos colaboradores. Ela está sujeita a um infindável leque de factores entrópicos que são externos a essa vontade.
É o caso do ambiente externo e interno da organização, a capacidade desta em gerir o seu capital humano, os meios e ferramentas que coloca à disposição dos colaboradores, os estímulos, a definição clara dos objectivos concretizáveis, a satisfação das expectativas em troca, a formação contínua dos quadros das empresas e dos organismos públicos, a competência dos dirigentes e empresários, os públicos alvo, o ordenamento jurídico, a qualidade dos políticos e por aí fora.
Claro que é mais fácil descarregar sobre os colaboradores da Administração Pública (a bruxa má do sistema) e da Administração Privada, o ónus das imcompetências acumuladas destes actores e apregoar em atoardas que os malandros dos trabalhadores portugueses são uns mandriões.
Só não oiço dizer que as estatísticas mostram que 75% dos empresários portugueses não têm condições mínimas para o serem, que reprovaram mais alunos este ano no 12º ano de escolaridade do que no ano anterior sem se ter averiguado porquê, que não há alunos suficientes no primeiro, segundo e terceiro ciclos, no ensino superior, que somos o país da europa comunitária com mais analfabetos, com mais analfabetos funcionais, com mais infoexcluidos, com mais digitoexcluidos e com escolaridade média mais baixa, para não falar de outras misérias como sermos o país com mais adolescentes grávidas ou mães.
Fazê-los calar, não podemos. Podemos é deixar de os aturar.

quarta-feira, setembro 08, 2004

O grito

No próximo dia 17 são inauguradas as obras do Pólis com pompa e circunstância. A Nação estará representada ao seu mais alto nível com a anunciada presença de Jorge Sampaio, sem sombra de dúvida, um amigo do Baixo Alentejo.
Não são ainda conhecidas as actividades programadas para o evento mas sabe-se que na Praça da República, da parte da tarde, actuarão pelo menos os coros da cidade.
Não vou aqui falar dos encantos e desencantos do Programa Pólis. Pelo menos, hoje. E há muito que falar. De bom e de mau.
Em oportunidade mais aconselhada, abordarei o tema.
Quero antes reforçar o enfoque na amizade que o Presidente da República nutre pela nossa região e o empenho que ele lhe tem dedicado, na justa medida do que que é institucional e politicamente correcto. E aproveitar para - pela enésima vez - relembrar as promessas não cumpridas relativamente às obras infraestruturantes determinantes para o desenvolvimento sustentado e sustentável e para a inversão do fenómeno da desertificação humana.
É ao Governo que cabem as decisões nesta matéria; não ao PR. Mas já que temos um amigo, vamos pedir-lhe para de novo interceder por nós junto do Governo. É preciso que se faça mais obra e menos política embora a política determine a obra.
Ansiamos pelo IP8, pela ligação ferroviária Sines-Beja-Moura-Espanha, pela electrificação da ferrovia até Beja, pelo aeroporto de Beja, pela continuação das fases do projecto do Porto de Águas Profundas de Sines, pela concretização dos projectos da responsabilidade do GESTALQUEVA (com dinheiro e sem obra), pela aceleração da concretização dos projectos da área do regolfo de Alqueva, da responsabilidade da EDIA (que tem obra mas não tem dinheiro), pela criação do Parque Tecnológico de Beja e pela homologação de novas licenciaturas vocacionadas para nichos do conhecimento específicos, com procura e sem oferta, para todas as escolas superiores - públicas e privadas - de Beja.
Senhor Presidente da República, Excelência, bom amigo Jorge Sampaio, dê lá mais um empurrãozinho Junto do Primeiro Ministro.
Não, não, não não é para ele cair. É para andar um bocadinho mais depressa do que a tartaruga e mais devagar do que a lebre. Tipo metro de superfície.
Bem Haja.

terça-feira, agosto 31, 2004

Inequidade

Recordo-me de que antes da vinda da 1ª. média superfície comercial para a cidade de Beja, logo as vozes dos Velhos do Restelo se fizeram ouvir, lamentando-se contra a instalação dos Adamastores que vinham destruir toda uma vida de luta e de trabalho dos comerciantes tradicionais.
A Câmara Municipal de Beja beneficiou de uma posição confortável no processo que lhe permitia por um lado, ir dizendo que a vinda daquelas unidades era prejudicial para o comércio tradicional; por outro, que a competência não era sua e nada podia fazer contra. Postura de Pôncio Pilatos.
Mais tarde sempre foi assumindo que a situação não era tão má assim e que até contribuiam para a geração de novos postos de trabalho e de dinamismo económico.
Depois assumiu que o que sería bom era a concorrência entre grupos, já que o 1º praticava preços altos por não ter concorrentes.
Hoje existem 3 médias superfícies em Beja e todas elas contribuiram com obras infraestruturantes para a cidade.
Outras - de diferentes ramos - já manifestaram vontade de se instalarem.
Acontece que agora a competência para a autorização da instalação das superfícies comerciais passou a ser das câmaras municipais e eis que a CMB nega a autorização para a instalação de uma nova superfície idêntica às que já se encontram, mas com potencial de regulação de preços de mercado para baixo, o que traría vantagens para os clientes.
Parece que o argumento volta a ser o de que destrói o comércio tradicional.
Este argumento é falacioso. O comércio tradicional definha em Beja e em qualquer outra cidade por manifesta incapacidade dos seus promotores e não por causa das grandes superfícies.
Falta ao comércio tradicional uma estratégia e uma definição de missão e objectivos; isto é, todos os factores que diferenciam o produto ou a actividade da concorrência, nomeadamente o enfoque naquilo que cada actividade comercial sabe fazer bem.
Os casos de sucesso que conheço - e são muitos - adaptaram-se bem e não têm dúvidas em afirmar que fazem aquilo que as médias e grandes superfícies não podem fazer. Isso é a sua diferenciação do produto.
É por demais evidente que algo de adicional se passará para a sustentação de tal tomada de atitude descricionária que estará muito mais para além das reclamações dos filiados na Associação Comercial do Distrito de Beja.
Se outra não existisse, o facto da manutenção da mesma equipa há 25 anos diz tudo.
Cabe à oposição a responsabilidade decisiva de a substituir no próximo acto eleitoral.

Falta equidade.

sexta-feira, agosto 20, 2004

K7's piratas

I Acto:

Ao Sábado, junto à praça de toiros de Beja, é fácil encontrar as últimas novidades em cinema digital. É mesmo possível adquirir um DVD com o último filme ou videoclip que ainda não está no mercado nacional e divulgado em antestreia há menos de 24 horas.
Perguntei ao tendeiro como é que era possível tamanha velocidade de satisfação do cliente por € 5. Respondeu-me que era fácil; o segredo estava nas relações privilegiadas com altos responsáveis de edição.
Piratas – pensei eu para comigo.
Bom, com esta facilidade comercial praticamente isenta de impostos, – provavelmente sem pagamentos regulares de direitos de autor - afigura-se estamos perante um negócio lucrativo para os editores, para o tendeiro e cheio de vantagens para o cliente.

II Acto:

Eis como é fácil obter os últimos gritos desde que exista acesso privilegiado à informação e à tecnologia.
À tecnologia tenho eu acesso. Domino-a com alguma facilidade. Não faço parte dos dígito excluídos. À informação privilegiada é que não.
Por isso vou – provavelmente – continuar a solicitar a colaboração do tendeiro para colmatar tal lacuna.
Não teria ele hipótese de arranjar CD’s com as últimas em fofocas políticas, escândalos, apanhados e outras mariolices jornalísticas, daquelas que fazem rolar cabeças importantes?
Perguntei-lhe.
Deu-me a entender que possível era; mais caro e moroso, mas possível. Não conseguia satisfazer os clientes em melhores condições, tendo em atenção a configuração dos editores. € 10 e 48 horas.
Mesmo assim, atrevi-me:
- Quero uma cópia das K7's com o escãndalo do segredo de justiça.
- Prá semana sou capaz de já as cá ter em upgrade!
Respondeu-me.
Retorqui-lhe:
-Como, se se consta que já não existem originais?
Respondeu:
- Não faz mal. Os meus editores têm backup’s de tudo, os melhores anti-virus, firewalls e encriptadores. Estão bem artilhados.

III Acto:

Gaita! – pensei eu. Este tipo é capaz de saber quantas namoradas eu tive no mês de Julho! E se apanhou algumas das minhas trocas de chat’s na net com alguma delas?
E os PIDES eram os outros.
E os direitos, liberdades e garantias, na Constituição!
Querem ver que tenho de voltar a olhar por cima do ombro e a desconfiar da minha própria sombra, 30 anos após o 25 de Abril?
Vai lá, vai…

Toca o pano, cai o órgão.

segunda-feira, agosto 09, 2004

AMPER & megawatts

Já tem aeródromo (com pistas fechadas oficialmente e impraticáveis durante o Inverno), vinho com denominação certificada de origem (Granja) e agora - com pompa e circunstância televisiva - a maior central fotovoltaica do mundo (ainda se não vêem nem os pilares).
A vila de Amareleja, concelho de Moura, pode vir a ser o exemplo do arranque das indústrias não poluentes geradoras de alto valor acrescentado e de mão-de-obra qualificada, bem como da génese de um centro tecnológico de investigação e desenvolvimento (I&D) no Baixo Alentejo.
A Agência Portuguesa para o Desenvolvimento e a Direcção Geral de Energia assinaram em Novembro de 2003 um acordo com a AMPER Central Solar, SA e a BP Solar Espanha para o desenvolvimento do projecto e sua implementação.
A AMPER, SA é uma sociedade anónima de capitais maioritariamente públicos, com 90 % do capital detido pela Câmara Municipal de Moura e 10 % pela empresa Renatura Networks.
O projecto é muito complicado e exige a celebração de contratos de parceria e de financiamento de grande escala, elementos concretizáveis quando existe um capital de imagem pública de empresa ou consórcio (que não é o caso) ou quando o Estado assina por baixo.
Tratando-se de uma empresa cujo principal accionista é a edilidade mourense, as coisas complicam-se.
Não estamos a falar de um projectozito qualquer para instalar no Alentejo profundo. Estamos a falar de 100 hectares de terreno baldio, na zona geográfica da Europa de maior e mais longo período anual de exposição solar e de 64 megawatts de energia eléctrica a injectar na REN (Rede Eléctrica Nacional) a partir da barragem de Alqueva.
Em termos dimensionais, o projecto é 12 vezes maior do que o que existe actualmente na Alemanha e pode representar uma empregabilidade directa entre 100 e 200 postos de trabalho e uma empregabilidade induzida situada entre os 600 e os 900 postos de trabalho. O custo da energia eléctrica fotovoltaica em Portugal situa-se nos 0,37 cêntimos Kw/h.
A mão-de-obra destinada ao preenchimento dos postos de trabalho não existe na região. No início, ela terá de ser importada; nas fases seguintes poderá já ser produzida localmente, nas universidades privadas (Universidade Moderna) sediadas em Beja, no Instituto Politécnico de Beja e na Universidade de Évora, para os quadros superiores. Para a produção de quadros técnicos, as escolas profissionais (privadas) estão na linha da frente e abrem-se oportunidades para as escolas públicas vocacionadas para cursos tecnológicos. Igualmente os Centros de Formação Profissional do IEFP - particularmente o de Beja pela sua capacidade tecnológica instalada e pelo seu capital em experiência - são estratégicos para a formação inicial e contínua do capital humano a ser disponibilizado para as diferentes organizações que irão ser formadas e instaladas em torno do projecto. As escolas e universidades privadas têm uma velocidade instantânea mais elevada para implementar novos cursos do que as escolas superiores públicas e podem constituir os parceiros privilegiados do sector público para a instalação de pólos de I&D e de ninhos de empresas tecnológicas.
Os ingredientes necessários à confecção do projecto estão quase todos. Ao que parece, até o capital financeiro pode estar garantido.
Se assim é, falta apenas um bocadinho.
O bocadinho que teima em faltar nos grandes projectos infrestruturantes da nossa região.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Os 3 Mosqueteiros

Tratando-se de uma questão nacional, não deixa de ter significado indirecto para a região, sobretudo se tivermos em consideração a actividade económica: aviação comercial.
A TAP/Air Portugal foi a única empresa de bandeira europeia a ter lucros em 2003. Se este facto, por si só, não fosse suficientemente relevante, sê-lo-ía o de tal ter acontecido após 4 anos sucessivos de prejuízos avultados.
A proeza deve-se a uma equipa de três gestores brasileiros: Fernando Pinto (administrador-delegado), Michael Connolly e Luiz Gama Mór.
Quando JMDB nomeou - pela mão do ministro da tutela - o Engº. Cardoso e Cunha para a TAP, muitas foram as vozes discordantes.
Em Maio e Junho deste ano, as vozes da discórdia viram os seus argumentos validados no momento em que saltaram para a ribalta as fricções entre Cardoso e Cunha e Fernando Pinto.
Cardoso e Cunha tinha sede de protagonismo e tentou obtê-lo pela via errada e em contra-mão. Transmitiu para a opinião pública uma imagem de reforço negativo daquela que já possuía quando desempenhou as funções de comissário para a Expo 98, ao por em causa os resultados anunciados por Fernando Pinto, relativamente ao exercício de 2003 da TAP/AP. Como se sabe, o seu nome ficou indelevelmente associado às derrapagens financeiras da Expo e à tolerância inexplicável perante actos de corrupção que vieram a confirmar-se, alguns deles sancionados com penas de prisão.
Agora o ministro de Santana Lopes não teve dúvidas em demitir Cardoso e Cunha. Claro que o fez com a elegância necessária e suficiente. Mas o acto reflecte uma certa mudança de atitude política face a factos insufismáveis.
A equipa de gestores liderada por Fernando Pinto conseguiu uma proeza na Europa e em Portugal. Actuaram enquanto profissionais na definição da estratégia e na consumação dos objectivos. Demonstraram que gestores são gestores. Os outros podem bailar bem no gramado mas não marcam golos.
Esta imagem bem que podería transferir-se para a nossa região, com o ajustamento proporcional à dimensão das organizações públicas, de capitais maioritariamente públicos, autárquicas e de capitais maioritariamente autárquicos.
Os políticos fazem política; os profissionais executam-na. É preciso evitar que, à custa de reformas e mudanças, não se pague às tropas políticas colocando a doméstica, o cão, o gato e o periquito, sempre que uma oportunidade de lugar surge.
O capital intelectual das organizações é o mais valioso dos activos, apesar de intangível. É ele que determina a diferença, a competividade e o sucesso. E a mediocridade política teima em ignorá-lo.
Afinal - diz o povo - mais cego do que o que não vê, é aquele que não quer ver.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Gota-a-gota

No espaço temporal de sensivelmente mês e meio, Beja ficou privada de água da rede pública, por duas vezes, 24horas.
Não é a primeira vez que tal acontece este ano.
As informações transmitidas aos munícipes apontam para que tais interrupções de abastecimento sejam devidas a obras de reparação de condutas que rompem por excesso de pressão.
Não sendo especialista na matéria mas tendo em conta a minha experiência autárquica vivida em Lisboa, acredito tanto na História do excesso de pressão como na cegonha do apagão que deixou o país às escuras.
Há já alguns anos escrevi no jornal Alentejo um artigo que dava conta da falta de pressão na água da rede pública da cidade de Beja, de tal maneira que os esquentadores não arrancavam. Estes são concebidos para alta e não para baixa pressão (que também os há no mercado).
O que é facto é que cerca de 5 ou 6 meses depois, a Câmara Municipal adjudicava trabalhos de desentupimento dos colectores por se ter detectado que estes estavam obstruídos por ferrugem, calcário e matéria orgânica. Uma espécie de excesso de mau colesterol.
Em 50 anos, terá sido a maior intervenção técnica na rede.
O problema é exactamente este: a rede está velha.
Independentemente do passado, Carreira Marques está há mais de 20 anos à frente dos destinos da edilidade, tempo mais do que suficiente para se ter elaborado um plano estratégico de renovação, ampliação e modernização da rede pública de abastecimento de água.
A cidade cresceu e as infraestruturas fundamentais não acompanharam a evolução. Faltou visão estratégica. Faltaram visionários.
Não admira. Durante muitos anos, a maior parte das ruas de Beja nem sarjetas tinha.
Com tantos programas e medidas cofinanciadas a 75% pelos fundos estruturais da União Europeia e apoios concedidos a partir do Orçamento de Estado, como é que foi possível aplicar-se esses dinheiros a construir rotundas de concepção técnica duvidosa, em actividades culturais mais ou menos elitistas, a repavimentar ruas retirando buraculhos e colocando altarulhos (nalgumas artérias os carros têm de se desviar das sarjetas para não cair com as rodas dentro delas), sinalizações desadequadas e não homologadas e por aí fora.
E - pasme-se - iniciou-se o Pólis, transformou-se Beja num estaleiro de obras públicas e não se previu o aproveitamento da situação para aplicar medidas destinadas a reformar as diferentes infraestruturas de rede.
É fundamental para a cidade e para o concelho que a reforma da rede de abastecimento de água seja rapidamente projectada e planeada para ser levada a efeito durante os próximos 10 anos. Impreterivelmente.

segunda-feira, agosto 02, 2004

Outdoor

A prática de actividades outdoor está a ganhar terreno na nossa região.
Reuniões de trabalho e formação de médias e grandes organizações, turismo em espaço rural e desporto aventura, são áreas com procura e que ainda não têm a oferta necessária devidamente divulgada.
Trazer quadros de uma empresa para discutir estratégias e objectivos, formá-los, ampliar o capital em conhecimento, são alguns dos motivos para instalar colaboradores e famílias num fim-de-semana prolongado numa unidade de turismo em espaço rural. Desta forma consegue combinar-se trabalho com lazer e família.
A nossa região está na moda mas ainda não consegue obter ganhos de competividade sobre outras, na medida em que não tem uma estruturação da oferta. As actividades existentes não são articuladas em pacotes; as regiões de turismo não actuam; o GESTALQUEVA não funciona (nem na internet); cada um toca o seu instrumento. Desta forma não há qualquer hipótese de gerar atractividade no mercado do turismo de curta duração.
Não podemos continuar a viver apenas da época da caça no concelho de Mértola; da praia fluvial e do parque de campismo da barragem de Odivelas; dos passeios de canoa na Mina de S. Domingos e da pousada da La Sabina; dos inúmeros e divertidos passeios de BTT que se realizam com participações elevadas.
É preciso coordenar esforços e actividades para as oferecer às organizações e famílias com qualidade e a preços competitivos.
Às organizações públicas, municipais e de capitais maioritariamente públicos da região, bem como das associações empresariais (como o NERBE/AEBAL e Associação Comercial do Distrito de Beja), cabe-lhes as tarefas de coordenação e combinação de sinergias. Aos empresários e free-lancers, compete-lhes o risco e a imaginação criativa.
O potencial e as oportunidades estão cá à espera de serem explorados.
Mas se as pessoas e os empresários de cá não têm capacidade nem iniciativa, outros virão, como no caso do hotel para estágios desportivos em Beja e, em breve, os cruzeiros turísticos no Guadiana.
Talvez desta forma se consiga reabilitar o ramal de Moura e combinar uma viagem excepcionalmente bonita junto ao rio grande do Sul com uma boa refeição tradicional, num comboio histórico, como acontece Junto ao Douro.

segunda-feira, julho 26, 2004

Quem tramou as OGMA II?

Recordo-me do momento em que o Ministro da Defesa anunciou efusivamente que a reestrturação das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico passaría pela instalação em Beja das OGMA II, tendo em consideração o espaço e as infraestruturas existentes na Base Aéria nº11.
Sabemos das dificuldades atravessadas por aquela empresa, dificuldades essas ligadas a dois aspectos relevantes: gestão deficiente e oscilações de mercado. Mas o momento é de grande expectativa, tendo em consideração as últimas encomendas obtidas em concurso; uma para a construção de aviões ligeiros civis monomotores (uma encomenda belga) e outra para a reparação dos C 130 da Força Aérea Francesa. 
Outras poderão estar em marcha mas, com muita dificuldade, aquela unidade poderá dar-lhes resposta com os meios disponíveis.
Convém aqui dizer que as OGMA (empresa civil) funcionam com capital em conhecimento disponibilizado pela Força Aérea Portuguesa e até parte importante do hardware (instalações, máquinas e ferramentas) são sua propriedade.
Quando olhamos para as instalações de Beja - imponentes, construídas pelos alemães  e a degradarem-se por nunca terem sido utilizadas - ficamos estupefactos de como é possível no nosso país aceitar-se uma tão grande falta de planeamento estratégico e laxismo, muitas vezes para proteger interesses instalados envoltos em núvens acinzentadas.
A instalação em Beja de uma nova unidade produtiva das OGMA na denominada "Fábrica" , acrescenta um novo elemento de atractividade ao projecto do Aeroporto de Beja, já que vai ser necessária a existência de uma unidade de manutenção de aeronaves e quem melhor do que aquela organização para satisfazer necessidades civis e militares na matéria.
Que melhor ponto de convergência pode existir entre a Aeronáutica Civil e a Força Aérea em Beja do que as OGMA II?
Tal como a EDAB, as OGMA marcaram passo relativamente à hipótese sem competidor de instalação de oficinas especializadas em Beja.
Não se sabe em que gaveta foi o projecto arrumado, porque foi arrumado e porque é que o ministro se calou acerca dele. Porém, não podem os bejenses calarem-se igualmente porque tais projectos são determinantes para o desenvolvimento sustentado da região e para o aumento demográfico da mesma. Acresce que o desenvolvimento sustentado que interessa à região é, exactamente, aquele que se alicerça na tecnologia de ponta que tem maior valor acrescentado e provoca a formação dos activos em capital humano de forma continuada.
Uma matéria interessante para ouvirmos o senhor Governador Civil de Beja pronunciar-se a propósito.

quinta-feira, julho 22, 2004

Factos & Opiniões

Há vários anos que este programa da Rádio Voz da Planície, em Beja, surge no éter às Terças-feiras, das 18.00h às 19.00h, de Setembro a Julho, normalmente conduzido pela jornalista Inês Patola.
Composto por um painel de três comentadores residentes de sensibilidades políticas diferentes, o programa pretende constituir-se como um forum de debate sério e esclarecedor, disponibilizando aos seus elementos a possibilidade de se assumirem como opinion makers.
De acordo com as informações disponíveis, o auditório do Factos & Opiniões é expressivo e constituído por uma massa de ouvintes fiéis muito estável e sabe-se que os poderes instituídos na cidade e concelhos limítrofes servidos pela antena da RVP, bem como os partidos políticos, estão muito atentos às opiniões formuladas programa a programa.
Essa atenção já esteve na base de várias mudanças de rumo nas políticas para a região, o que constitui factor de responsabilidade acrescida para os comentadores, vendo-se estes na obrigação de elevar a fasquia da qualidade das suas intervenções e aumentar a abrangência das mesmas.
Na passada Terça-feira concretizou-se o último programa da temporada. Regressará em Setembro.
Está necessitado de um patrocinador comercial para custear as despesas de produção. Isso permitiría melhorar o serviço público prestado pelo programa e atenuar a pressão das despesas de produção e do tempo de antena que, não sendo significativas, não deixam de contribuir para o peso global dos custos operacionais, sempre pesados numa estação local.
Estamos de férias - o programa, leia-se - mas, no que me toca, vou continuar activo. Aqueles que me ouvem regularmente e que consultam a minha página, podem tecer comentários, sugerir temas, abordar problemas. Para tanto, basta clicar em comentários no final do texto e escrever.
Todos serão bem-vindos.
 

segunda-feira, julho 19, 2004

Equilíbrio instável

As políticas regionais estão naturalmente condicionadas pelas macropolíticas. Estas definem a idéia, a visão, a missão e os objectivos.
Quando se entra em gestão ou nomeia um novo Primeiro Ministro, existem compassos de espera inultrapassáveis que atrasam todos e quaisquer processos dependentes de decisões das respectivas tutelas. Por vezes coisas bem simples tornam-se complicadas e adquirem custos demasiado significativos para as regiões (que não há maneira de existirem no concreto, com excepção das autónomas).
O processo de substituição do governo - independentemente de se gostar ou não - numa análise um pouco mais à distância e a frio, afigura-se interessante, inovadora em Portugal e detentora de uma reengenharia de processos digna de um case study.
Veja-se que, mesmo do ponto de vista da imagem, tudo correu como planeado. Sabe-se que em qualquer congresso ou seminário, à excepção de questões de pormenor relevantes, as conclusões estão previamente elaboradas e deliberadas.
O Dr. JMDR sai pela porta da frente; não abandona o navio perante a ameaça de naufrágio. É chamado a prestar um serviço público transnacional que dignifica e honra a Nação e a Nação é-lhe grata por isso.
Porém a realidade é outra e está dissimulada como tantos epísódios da nossa história de mais de 900 anos. O governo Barroso tinha uma morte anunciada; indicadores mostravam um capital de imagem deficitário e uma popularidade dos ministros a bater no fundo. Os desaires acumulavam-se e redundavam em fracasso eleitoral a meio do mandato.
Ainda atordoado pela felicidade passageira (não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe) oferecida pelo Euro 2004 e pelo desempenho geral de todo o evento, o povo dá indícios de serenidade. As Instituições também parecem funcionar e o país entrou de férias, apesar da substituição do governo e do PM ter sido operada em tempo recorde.
Uma de duas coisas pode estar a acontecer: ou o povo considera que tudo está bem, em equilíbrio, ou está à espera da oportunidade de ouro para desferir o golpe de misericórdia sobre os políticos da Terceira República.
A reentrada esclarecerá o que vai na alma do verdadeiro titular do poder.
Melhor do que as minhas palavras, o mail de um amigo pode espelhar o sentimento contido e expectante, através de uma das alegorias da tartaruga, de autor desconhecido:

Enquanto suturava uma laceração na mão de um velho lavrador (ferido por um caco de vidro indevidamente deitado na terra), o médico e o doente começaram a conversar sobre Santana Lopes. 
E o velhinho disse: 
- Bom, o senhor sabe...o Santana é uma tartaruga num poste... 
Sem saber o que o camponês quer dizer, o médico perguntou o que era uma tartaruga num poste. 
A resposta foi: 
- É quando o senhor vai por uma estradinha e vê um poste da vedação de arame farpado com uma tartaruga equilibrando-se em cima dele. Isto é uma tartaruga num poste... 
O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação: 
- Você não entende como ela chegou lá; 
- Você não acredita que ela esteja lá; 
- Você sabe que ela não subiu para lá sozinha; 
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá; 
- Você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá; 
- Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá! 
Eu acrescento: Sem escadote.

  
  

sexta-feira, julho 16, 2004

Porquê?

Ainda o não tinha revelado.
Os que me não conhecem, não o sabem.
Aqueles que ouvem a Rádio Voz da Planície às Terças-feiras, das 18.00h às 19.00h, estão mais familiarizados com as minhas convicções, tal como estarão com as dos meus dois outros companheiros de programa: Susana Sobral e Castro e Brito, a quem rendo daqui as minhas homenagens.
Sou socialista.
Há 30 anos.
Começei com 19, com Mário Soares, a quem devo a minha formação prática. A teórica, durante a licenciatura, a Adriano Moreira. São estas as razões pelas quais costumo afirmar sem vaidade que tive o privilégio de uma escola política de elite.
Aprendi a respeitar idéias, opiniões e pessoas. Por isso tenho amigos em todos os quadrantes.
Na minha vida já saboreei vitórias e derrotas, alegrias e frustrações. Contribuiram para uma economia de experiência que não será das melhores mas que ombreia com elas.
O Partido Socialista - independentemente de se gostar dele ou não - é uma instituição. Merece ter uma liderança de qualidade que espelhe, por uma lado, evidente capacidade estadista; por outro, a cultura, os valores, os princípios, a escola, a ética, a deontologia a ideologia.
O PS é, por tradição, uma Organização aberta; um sistema aberto. Ultimamente andou arredado das suas competências-chave (aquilo que os distingue dos restantes) e viu-se numa encruzilhada de combinações que não resultaram numa oposição clara, credível, poderosa, liderante e protagonizadora.
As sondagens e os últimos resultados eleitorais (europeias), têm vindo a dar sinais de empatia forte por parte dos eleitores mas não em função do líder cessante e da sua equipa. De facto, sabe-se que o poder não se conquista; o poder perde-se.  
E porque a coligação estar a perder continuadamente o poder é que J.M.D.B. aproveitou para sair pela porta da frente, à custa de uma lebre que tem tanto de igénua como de inteligente. Como pode alguém, a partir de agora, criticar António Guterres?
Se o PS está a capitalizar as preferências do eleitorado (enquanto partido detentor de um capital de imagem sem precedentes), é chegado o momento de apostar no líder que seja capaz de demonstrar sentido de estado, capacidade de liderança, espelhe a cultura organizacional do Partido e aplique o recurso que é, exactamente,  aquele valor que releva para o eleitorado e que, de facto, é um dos activos políticos mais valiosos que detém (atenda-se às sondagens).
Não tenho rigorosamente nada contra José Sócrates; bem pelo contrário. Mas o mediatismo não é suficiente para fabricar um líder e um estilo. O perfil é um misto de inato e de adquirido. Essa é a lacuna de Sócrates. Acresce que, à semelhança de Ferro Rodrigues - que nunca contou com ferristas - também ele não tem socráticos. Conta - tal como o seu antecessor - com pastilhas elásticas.
Eis as grandes diferenças relativamente a João Soares. Não tem pastilhas elásticas e conta com um grupo de socialistas de renome, estável, coerente, activo, detentor de um capital intelectual relevante, que não procura lugares, donde não consta que hajam dissidentes e que constituem uma massa crítica sustentada e sustentável, capaz de garantir o apoio ao líder e a formação de um autêntico governo-sombra.
Por isto, o meu apoio a João Soares.

quarta-feira, julho 14, 2004

Menos ais

As cidades que conheço do nosso país, na sua maioria, possuem uma logísta de salubridade urbana que lhes permite manter um padrão de qualidade ambiental aceitável. As excepções confirmam a regra.
Ao nível do equipamento, esta logística nuns casos é melhor, noutros nem por isso. O destaque concretiza-se pelas equipas humanas.
Há anos que Beja criou fama de cidade limpa; há anos que se deitou a dormir à sua sombra.
A época estival denuncia a fragilidade da logística de salubridade: as ruas não são lavadas, a recolha contentorizada falha, as voltas de recolha são cortadas, não há fiscalização do trabalho, o lixo transportado pelo vento acumula-se nas pracetas, os carros de aspiração são antecedidos por funcionários equipados com sopradores que levantam enormes poeiredos, as areias não são retiradas dos passeios e ruas depois das obras terem sido realizadas, as sargetas entopem.
A meu ver já atingimos um estado de despodor e laxismo sem precedentes.
A Praça da República - supostamente um espelho do que de melhor se pode ter na matéria - não vê limpeza há meses e nunca foi lavada. O cenário está implantado por debaixo do nariz de Carreira Marques.
Se a amostra está exposta à porta do "estabelecimento", não admira que o "armazém" apresente deficiências ainda maiores.
A Câmara possui viaturas de dimensões diferentes, equipadas com automatismos de aspiração e lavagem. A aspiração funciona; os equipamentoas de lavagem, em muitas delas, foi retirado.
Seguramente que nas vias mais estreitas, as viaturas não passarão. Mas existem mangueiras e equipamentos manuais para resolver esses problemas.
O lixo doméstico acumula-se à volta dos contentores, sejam de recolha seleccionada o tradicionais porque há menos voltas de recolha e as que existem são encurtadas. Mas vemos as equipas paradas à hora de serviço em tudo quanto é café aberto, o que denuncia falta de acompanhamento e fiscalização por parte das chefias dos serviços respectivos.
É urgente devolver à cidade a qualidade urbana que tinha; os padrões de salubridade; os níveis de manutenção; a conservação do mobiliário urbano.
Os critérios de qualidade têm de ser aplicados à gestão da coisa municipal, sendo que qualidade é aquilo que o cliente tem como expectativa relativamente a um determinado bem ou serviço, sendo ele (cliente) quem a define. Os clientes, no caso, são os munícipes. Às organizações (leia-se Câmara, EMAS e outras), cabe-lhes ir ao encontro dessas expectativas e, sempre que possível, surpreender os clientes, superando-as.
O primeiro passo é a abertura do município aos munícipes. Pode parecer um lugar comum mas é a chave que abre a porta do sucesso.
Aos autarcas - deputados municipais e vereadores - cabe-lhes andar mais a pé, de bicicleta e de autocarro pela cidade e frequentar mais lugares públicos para não perderem o contacto com a realidade. A cabeça etá enterrada há demasiado tempo na areia.

sexta-feira, julho 09, 2004

Na linha

No passado dia 06 de Junho, inaugurou-se a ligação ferroviária Beja / Lisboa / Beja, pela ponte 25 de Abril, com términus na Estação do Oriente.
É uma acontecimento histórico de relevância sócio-económica para a região. Porém, Governador Civil e - pelo menos - autarcas dos concelhos servidos pela linha, nenhum deles se dignou a emprestar alguma solenidade e reconher a importância do investimento estruturante realizado pela REFER.
É preciso não esquecer que a linha passa pela base aérea nº 11 - onde será (?) concretizado o projecto do aeroporto de Beja - e que pode, a partir dela, estabelecer-se a ligação ao terminal portuário de Sines.
Sabe-se que, em breve, se iniciará a sua electrificação até Beja e efectuarão algumas pequenas obras na via que permitirão aumentar a velocidade de circulação.
Desta vez, a ferrovia ganhou à rodovia (IP 8).
Mas a utilização do combóio - 2º transporte mais seguro do mundo - obedece a critérios de atractividade e qualidade. E duas questões se colocam neste momento e que não têm relação com a REFER mas com a CP, a saber: Horários e preços.
O horário não é, efectivamente, atractivo. Anteriormente, o Inter Cidades partia às 07.45 de Beja, o que permitia chegar a Lisboa - Terreiro do Paço, a horas muito favoráveis.
Agora o Inter Cidades parte de Beja às 08.26 e chega à Estação do Oriente às 10.45h o que manifestamente anula a utilidade da manhã para, por exemplo, tratar de assuntos na Administração Central ou estar presente em actos médicos.
Evidentemente que não é fácil conciliar interesses e horários, sobretudo quando se tem uma linha com muitos quilómetros de via única e um utilizador privado como é o caso da FERTAGUS. Mas tem de ser feito.
Uma segunda questão prende-se com o tarifário: 13 euros por bilhete simples,ida e volta 26 euros com 20% de desconto, o que dá 20.80 euros. Subiu mais de 3 euros com a alteração. Este tarifário reduz a vantagem competitiva face ao automóvel e face ao transporte em autocarro expresso.
Estas duas circunstâncias afectam a possibilidade de aumentar a quota de clientes maiores de 12 anos e menores de 65; isto é, do grupo de pessoas que não têm direito a qualquer redução de preço. Menores de 12 anos, cada vez há menos e maioresde 65, cada vez há mais.
E não me parece que o simples facto de se ter desclassificado o Inter Cidades da hora do almoço para Regional, seja suficiente para compensar esta falta de atractividade conquistadora de novos adeptos do transporte ferroviário.
Espero que o bom-senso e as autoridades sejam capazes de transformar em realidade o que é evidente. Provavelmente ainda não deram pela mudança porque há muito que deixaram de andar de comboio.
E quando se deixa de andar de comboio ou de autocarro, deixa de se conhecer a alma do povo.

segunda-feira, julho 05, 2004

FantasPax

Não, não vai haver festival de cinema de Verão em Beja. Aliás: não vai haver nada que se relacione com animação, durante o Verão. Ou quase nada.
Há muito que a cidade morreu. Aos fins-de-semana, na época dos santos populares, férias estivais, etc.,é a debandada geral.
Está triste, empoeirada e seca, sem vida.
Nem o Pólis conseguiu criar pequenos espaços públicos atractivos. Resta-nos aguardar a conclusão do Parque da Cidade.
Iniciativas por parte do município, Região de Turismo, nem vê-las. Para que houvesse um pequeno estádio virtual para acompanhar os jogos do Euro 2004, foi necessário que uma microempresa familiar tomasse a iniciativa de concretizar a idéia e colocar um ecrã gigante no Parque de Feiras e Exposições. Com entradas gratuitas!
Não fosse isso e mais uma vez aquelas instalações estariam desertas, já que não é com "alternativas" que se anima um espaço tão grande nem com pagamento de entradas para coisa nenhuma.
Não há um concerto de música de câmara ao ar livre, uma exibição teatral; um programa de televisão em directo; uma opereta; um espectáculo musical ligeiro; um festival; nada!!
Beja tornou-se triste, com autarcas cinzentos no Verão e bolorentos no Inverno. Sem idéias e sem projecto.
Por seu turno, a opisição perdeu o brilho. Não consegue - ou não quer - defender projectos, denunciar políticas e actos de administração da coisa pública errados, apresentar idéias.
Esta coexistência pacífica está a matar a urbe, a diminuir-lhe a qualidade de vida e a afastar os munícipes da participação na vida política do concelho.
É preciso mudar de atitude.
Falta qualidade na política autárquica.

editado em 2004-07-05

quarta-feira, junho 30, 2004

Granel

Agora ainda mais com a renúncia de Durão Barroso e, concomitante mente, com a demissão do governo.
Desde o final de 2003 que a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja está no centro das polémicas políticas. A nomeação de dois novos administradores da confiança do presidente da Câmara Municipal de Ourique foi o rastilho que incendiou o PSD distrital.
Com a provação do orçamento para 2004, a "nova administração" tratou de aumentar salários, mudar a mobília, comprar carros e uma vivenda que não pode ser utilizada para fins empresariais.
Os pequenos accionistas (presentes) aprovaram e disseram que desconheciam os intentos do Conselho de Administração (em terra de cegos, que tem olho é rei).
E lá se foram os cerca de 400 000 euros do orçamento de tesouraria da EDAB.
Dizem agora as más línguas que a EDAB está sem dinheiro por falta de injecção de fundos de tesouraria por parte do principal accionista que é o Estado. E esse dinheiro está a fazer falta para pagar as compensações indemnizatórtias aos expropriados do projecto.
O que é interessante - e segundo as línguas venenosas - é que os 400 000 euros gastos pelo actual Conselho de Administração em actualizações salarias, mobílias novas e carros novos, quase que chegavam para pagar aos expropriados.
Não pagando aos expropriados, o projecto não anda.
Deve ser por isso que os vôos charter anunciados pelo Secretário de Estado para o início do Verão não chegam.
Ainda a acreditar nas línguas venenosas, as contas da EDAB não apresentam resultados negativos para efeitos fiscais. A ser verdade, tal facto representará um verdadeiro estudo de caso, já que essa realidade contabilística terá sido conseguida com contrapartida em trabalhos para a própria empresa (!!!).
Para deslindar e esclarecer esta nova polémica, nada melhor que publicitar rapidamente o relatório e contas da EDAB, S.A.. De contrário, afigura-se que o próximo presidente do Conselho de Administração da EDAB vai necessitar de uma pré-formação em minas e armadilhas.

Editado em 2004.06.29