quarta-feira, agosto 04, 2004

Gota-a-gota

No espaço temporal de sensivelmente mês e meio, Beja ficou privada de água da rede pública, por duas vezes, 24horas.
Não é a primeira vez que tal acontece este ano.
As informações transmitidas aos munícipes apontam para que tais interrupções de abastecimento sejam devidas a obras de reparação de condutas que rompem por excesso de pressão.
Não sendo especialista na matéria mas tendo em conta a minha experiência autárquica vivida em Lisboa, acredito tanto na História do excesso de pressão como na cegonha do apagão que deixou o país às escuras.
Há já alguns anos escrevi no jornal Alentejo um artigo que dava conta da falta de pressão na água da rede pública da cidade de Beja, de tal maneira que os esquentadores não arrancavam. Estes são concebidos para alta e não para baixa pressão (que também os há no mercado).
O que é facto é que cerca de 5 ou 6 meses depois, a Câmara Municipal adjudicava trabalhos de desentupimento dos colectores por se ter detectado que estes estavam obstruídos por ferrugem, calcário e matéria orgânica. Uma espécie de excesso de mau colesterol.
Em 50 anos, terá sido a maior intervenção técnica na rede.
O problema é exactamente este: a rede está velha.
Independentemente do passado, Carreira Marques está há mais de 20 anos à frente dos destinos da edilidade, tempo mais do que suficiente para se ter elaborado um plano estratégico de renovação, ampliação e modernização da rede pública de abastecimento de água.
A cidade cresceu e as infraestruturas fundamentais não acompanharam a evolução. Faltou visão estratégica. Faltaram visionários.
Não admira. Durante muitos anos, a maior parte das ruas de Beja nem sarjetas tinha.
Com tantos programas e medidas cofinanciadas a 75% pelos fundos estruturais da União Europeia e apoios concedidos a partir do Orçamento de Estado, como é que foi possível aplicar-se esses dinheiros a construir rotundas de concepção técnica duvidosa, em actividades culturais mais ou menos elitistas, a repavimentar ruas retirando buraculhos e colocando altarulhos (nalgumas artérias os carros têm de se desviar das sarjetas para não cair com as rodas dentro delas), sinalizações desadequadas e não homologadas e por aí fora.
E - pasme-se - iniciou-se o Pólis, transformou-se Beja num estaleiro de obras públicas e não se previu o aproveitamento da situação para aplicar medidas destinadas a reformar as diferentes infraestruturas de rede.
É fundamental para a cidade e para o concelho que a reforma da rede de abastecimento de água seja rapidamente projectada e planeada para ser levada a efeito durante os próximos 10 anos. Impreterivelmente.

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