Já tem aeródromo (com pistas fechadas oficialmente e impraticáveis durante o Inverno), vinho com denominação certificada de origem (Granja) e agora - com pompa e circunstância televisiva - a maior central fotovoltaica do mundo (ainda se não vêem nem os pilares).
A vila de Amareleja, concelho de Moura, pode vir a ser o exemplo do arranque das indústrias não poluentes geradoras de alto valor acrescentado e de mão-de-obra qualificada, bem como da génese de um centro tecnológico de investigação e desenvolvimento (I&D) no Baixo Alentejo.
A Agência Portuguesa para o Desenvolvimento e a Direcção Geral de Energia assinaram em Novembro de 2003 um acordo com a AMPER Central Solar, SA e a BP Solar Espanha para o desenvolvimento do projecto e sua implementação.
A AMPER, SA é uma sociedade anónima de capitais maioritariamente públicos, com 90 % do capital detido pela Câmara Municipal de Moura e 10 % pela empresa Renatura Networks.
O projecto é muito complicado e exige a celebração de contratos de parceria e de financiamento de grande escala, elementos concretizáveis quando existe um capital de imagem pública de empresa ou consórcio (que não é o caso) ou quando o Estado assina por baixo.
Tratando-se de uma empresa cujo principal accionista é a edilidade mourense, as coisas complicam-se.
Não estamos a falar de um projectozito qualquer para instalar no Alentejo profundo. Estamos a falar de 100 hectares de terreno baldio, na zona geográfica da Europa de maior e mais longo período anual de exposição solar e de 64 megawatts de energia eléctrica a injectar na REN (Rede Eléctrica Nacional) a partir da barragem de Alqueva.
Em termos dimensionais, o projecto é 12 vezes maior do que o que existe actualmente na Alemanha e pode representar uma empregabilidade directa entre 100 e 200 postos de trabalho e uma empregabilidade induzida situada entre os 600 e os 900 postos de trabalho. O custo da energia eléctrica fotovoltaica em Portugal situa-se nos 0,37 cêntimos Kw/h.
A mão-de-obra destinada ao preenchimento dos postos de trabalho não existe na região. No início, ela terá de ser importada; nas fases seguintes poderá já ser produzida localmente, nas universidades privadas (Universidade Moderna) sediadas em Beja, no Instituto Politécnico de Beja e na Universidade de Évora, para os quadros superiores. Para a produção de quadros técnicos, as escolas profissionais (privadas) estão na linha da frente e abrem-se oportunidades para as escolas públicas vocacionadas para cursos tecnológicos. Igualmente os Centros de Formação Profissional do IEFP - particularmente o de Beja pela sua capacidade tecnológica instalada e pelo seu capital em experiência - são estratégicos para a formação inicial e contínua do capital humano a ser disponibilizado para as diferentes organizações que irão ser formadas e instaladas em torno do projecto. As escolas e universidades privadas têm uma velocidade instantânea mais elevada para implementar novos cursos do que as escolas superiores públicas e podem constituir os parceiros privilegiados do sector público para a instalação de pólos de I&D e de ninhos de empresas tecnológicas.
Os ingredientes necessários à confecção do projecto estão quase todos. Ao que parece, até o capital financeiro pode estar garantido.
Se assim é, falta apenas um bocadinho.
O bocadinho que teima em faltar nos grandes projectos infrestruturantes da nossa região.
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