quinta-feira, outubro 07, 2004

Lápis azul

Não consigo resistir ao impulso de falar do tema do dia. Não se tratando propriamente de uma matéria de debate político regional ou de desenvolvimento local, de forma directa, acaba por sê-lo por afectação lateral.
Tinha 19 anos quando se deu o 25 de Abril. Recordo-me perfeitamente do ambiente que se vivia com a censura prévia e mordaça à liberdade de expressão.
Trinta anos volvidos repetem-se alguns cenários que já tiveram eco durante os governos chefiados por Aníbal Cavaco Silva. Porém, agora com outros contornos e requintes que raiam postulados transcritos por Maquiavel.
As escutas telefónicas, a devassa do correio electrónico, o uso e abuso do telemóvel para localizar pessoas, a via verde para saber da vida de cada um de nós, o cartão Visa para descobrir os amantes, a conta bancária para ver que quotas se pagam e a quem, o SIS, a nova entidade de inteligência de nível superior ao SIS para combater o terrorismo, e por aí fora, são apenas pequenos indícios do que se passa em matéria de controlo da liberdade individual consagrada no Texto Fundamental da República.
Embora se não saiba, ao certo, o que está por detrás da saída de Rebelo de Sousa da TVI - o que se tem visto até agora são snipers a atirar a matar - não deixa de ser preocupante o facto de estarmos perante uma situação inédita. Não há muito tempo, a designada Alta Autoridade Para a Comunicação Social protagonizou o fim do debate em sede de noticiário alargado de Domingo do canal 1 da RTP, com a argumrentação de falta de pluralidade.
A SIC aproveitou o vazio e criou espaços de debate político com participações individuais que vieram a não se consolidar no tempo, não se sabe bem porquê.
Agora a TVI despede MRS e Miguel Sousa Tavares admite sair.
Estas questões merecem um olhar atento do mais alto magistrado da Nação, subsidiariamente do Tribunal Constitucional e, sobretudo, definir-se quem é quem, quem controla o quê e que poderes existem neste país que podem mais do que o poder institucionalizado por mandato político e democrático.
Já não é a Capela do Rato, a Maçonaria, a Opus Dei e muito menos a Carbonária. Estes já não têm segredos. São outros bem mais requintados que ultrapassam o poder financeiro e que fazem gato-sapato dos políticos.
Cada vez vejo mais riscos azuis à minha frente e não consigo descobrir o dono do lápis.

1 comentário:

  1. O seu blogue está muito bom e interessante. Parabéns. Continue o bom trabalho e publicite-o, que bem vale a pena.

    Ana Miranda

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