segunda-feira, outubro 18, 2004

Lentidão

As incursões de elementos do Governo da República na campanha eleitoral da Região Autónoma dos Açores acabaram por se pautar pelo desnorte e polichinelo.
Exemplo disso é o caso do jantar comício realizado em Lagoa - Açores, pela coligação PSD / CDS onde, a dado passo de uma intervenção, com alusão a anedotas de alentejanos, alguém as utilizou para dizer que o Governo Regional era "mais lento" do que os alentejanos.
O protagonista da associação do caso de semelhante gafe ao de Carlos Borrego - que se demitiu justamente por causa de uma piada - foi o Ministro Nuno Morais Sarmento.
Não interessa o contexto, não interessa o motivo. O que interessa é o que foi dito e por quem foi dito.
O Sr. Ministro será daquelas pessoas que não pode recorrer à autoridade de princípios que regem as normas de comportamento social aceitável para arremessar pedras aos telhados dos outros. E muito menos para associar a classificação de lentos ou mais lentos do que a quem quer que seja.
Estou perfeitamente à-vontade para criticar este deslize linguístico. Não sou alentejano; sou alfacinha de gema (terceira geração) mas vivo e trabalho em Beja há 15 anos, onde fui bem aceite e me honro de contar nas minhas relações com figuras públicas de relevo de todos os quadrantes políticos, intelectuais e religiosos, bem como de cidadãos anónimos, muitos dos quais me orgulho de ter como amigos.
O Sr. Ministro Morais Sarmento, ao subscrever o apelido de lentos os alentejanos, chamou lenta à sua colega Ministra da Ciência e Ensino Superior que é natural de Beja; chamou lento ao Sr. Governador Civil de Beja e seus colaboradores de gabinete, a dois elementos do Conselho de Administração da EDAB e demais colaboradores daquela Organização, todos do PSD; chamou lentos aos membros do Conselho de Administração da EDIA e demais colaboradores, naturais da região e membros do PSD; chamou lentos a todos os nomeados políticos do PSD que desempenham cargos de relevo em todo o Alentejo; chamou lentos aos políticos alentejanos do PSD; chamou lentos aos empresários prosélitos do PSD que têm iniciativas económicas de sucesso e que colaboram com donativos para as campanhas eleitorais do seu partido; chamou lentos aos habitantes de uma das regiões mais votadas ao esquecimento pelos poderes centralizadores da responsabilidade do PSD; chamou lenta à CCDRA e disse que os Açoreanos eram ainda mais lentos.
Claro que o Presidente do Governo Regional dos Açores - agora reeleito - pediu de imediato a sua demissão. E a comunicação social não fez eco de tamanha argolada política. Tínhamos o caso de Estado do encontro SLB / FCP.
Mas eu reforço: o Sr Ministro Morais Sarmento posicionou-se no mesmo lugar da grelha de partida do Engº. Carlos Borrego, à época Ministro de Cavaco Silva. A credibilidade que eventualmente o consolidava no exercício de funções de serviço público está abalada e, consequentemente, deve tirar as ilações decorrentes.

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