sexta-feira, julho 16, 2004

Porquê?

Ainda o não tinha revelado.
Os que me não conhecem, não o sabem.
Aqueles que ouvem a Rádio Voz da Planície às Terças-feiras, das 18.00h às 19.00h, estão mais familiarizados com as minhas convicções, tal como estarão com as dos meus dois outros companheiros de programa: Susana Sobral e Castro e Brito, a quem rendo daqui as minhas homenagens.
Sou socialista.
Há 30 anos.
Começei com 19, com Mário Soares, a quem devo a minha formação prática. A teórica, durante a licenciatura, a Adriano Moreira. São estas as razões pelas quais costumo afirmar sem vaidade que tive o privilégio de uma escola política de elite.
Aprendi a respeitar idéias, opiniões e pessoas. Por isso tenho amigos em todos os quadrantes.
Na minha vida já saboreei vitórias e derrotas, alegrias e frustrações. Contribuiram para uma economia de experiência que não será das melhores mas que ombreia com elas.
O Partido Socialista - independentemente de se gostar dele ou não - é uma instituição. Merece ter uma liderança de qualidade que espelhe, por uma lado, evidente capacidade estadista; por outro, a cultura, os valores, os princípios, a escola, a ética, a deontologia a ideologia.
O PS é, por tradição, uma Organização aberta; um sistema aberto. Ultimamente andou arredado das suas competências-chave (aquilo que os distingue dos restantes) e viu-se numa encruzilhada de combinações que não resultaram numa oposição clara, credível, poderosa, liderante e protagonizadora.
As sondagens e os últimos resultados eleitorais (europeias), têm vindo a dar sinais de empatia forte por parte dos eleitores mas não em função do líder cessante e da sua equipa. De facto, sabe-se que o poder não se conquista; o poder perde-se.  
E porque a coligação estar a perder continuadamente o poder é que J.M.D.B. aproveitou para sair pela porta da frente, à custa de uma lebre que tem tanto de igénua como de inteligente. Como pode alguém, a partir de agora, criticar António Guterres?
Se o PS está a capitalizar as preferências do eleitorado (enquanto partido detentor de um capital de imagem sem precedentes), é chegado o momento de apostar no líder que seja capaz de demonstrar sentido de estado, capacidade de liderança, espelhe a cultura organizacional do Partido e aplique o recurso que é, exactamente,  aquele valor que releva para o eleitorado e que, de facto, é um dos activos políticos mais valiosos que detém (atenda-se às sondagens).
Não tenho rigorosamente nada contra José Sócrates; bem pelo contrário. Mas o mediatismo não é suficiente para fabricar um líder e um estilo. O perfil é um misto de inato e de adquirido. Essa é a lacuna de Sócrates. Acresce que, à semelhança de Ferro Rodrigues - que nunca contou com ferristas - também ele não tem socráticos. Conta - tal como o seu antecessor - com pastilhas elásticas.
Eis as grandes diferenças relativamente a João Soares. Não tem pastilhas elásticas e conta com um grupo de socialistas de renome, estável, coerente, activo, detentor de um capital intelectual relevante, que não procura lugares, donde não consta que hajam dissidentes e que constituem uma massa crítica sustentada e sustentável, capaz de garantir o apoio ao líder e a formação de um autêntico governo-sombra.
Por isto, o meu apoio a João Soares.

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