segunda-feira, novembro 08, 2004

As palavras

Começam a ser demasiadas as alusões às questões da limitação da liberdade de expressão, da violação do segredo de justiça, do direito de opinião, manifestação e indignação.
Fala-se cada vez mais no controlo dos weblog's (leia-se eliminar) e surgem notícias de pressões sobre os seus autores e mesmo despedimentos de alguns por influência do poder.
São demasiadas circunstâncias analógicas, sincronizadas e verificadas por unidade de tempo para que não possam ser classificadas como acidentais.
A comunicação social consegue fazer rolar cabeças e, como a vingança é um prato que se serve frio, mandam-se 50 jornalistas para a barra do tribunal. Mas há pessoas em lugares de nomeação que têm sensações orgásmicas na presença de um microfone ou de uma câmara de televisão. Ora, em êxtase, perde-se o controlo racional.
O delito de opinião, supostamente, foi banido do ordenamento jurídico português pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974. Porém, é público e notório que se tenta com demasiado despudor, controlar os órgãos de comunicação social nacionais por via das aquisições e fusões. Os regionais e locais começam a estar à mercê de caceteiros caciquentos.
Este medo da transparência, da verdade só pode incomodar quem não segue as regras da boa cidadania e do cumprimento das obrigações a que todos os cidadãos de um Estado de Direito constitucionalmente consagrado estão vinculados. Aqueles que acham que todos somos iguais mas alguns são mais iguais do que outros.
Segredos porquê?
Quem os conta? Não são os próprios prosélitos os piores dos delatores?
Gente desconfiada não é de confiança, diz o povo.
Preocupa-me este clima de suspeição que começa a viver-se no nosso país; faz-me lembrar outros tempos.
Tantas vezes apregoado, o direito ao contraditório nada adianta ao poder político instituído; não porque não o possa usufruir, mas porque mente tanto quando vem a terreiro que facilmente é despido e ridicularizado na praça pública. E diz igualmente o povo que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo.
O rei vai nu.
Não será restringindo a liberdade de expressão que se reduz a capacidade de intervenção; a história está aí, indelével, para o demonstrar.
É o comportamento dos poderosos que gera o comportamento reactivo da restante sociedade que se defende com a mais eficaz das armas: a palavra. É grátis, não polui e mata que se farta.
Porque as palavras são ideias em movimento quando são bem pensadas. Quando não, leva-as o vento (Paco Bandeira).
E o fruto proibido é o mais apetecido.
Abra-se o jogo; torne-se tudo transparente. Cultive-se a cidadania do tipo nórdico.
E tudo será bem mais fácil. Menos para os que precisam esconder.

1 comentário:

  1. No que se refer aos blogs, não tenho conhecimento de censuras ou limitação da liberdade de expressão. O único caso que me preocupa, e que não vejo "explorado", é o do blogger do Pombal. Mas mesmo aqui não disponho de todos os dados. Mais Liberdade maior responsabilidade. Também isto tem que se aplicar a quem escreve nos blogs.
    Não me parece, antes pelo contrário, que haja o perigo de eliminação da blogosfera portuguesa. Mas não tenho dúvidas que a mesma será sujeita a legislação a criar por um qualquer Governo. Temos que estar atentos e dar o nosso contributo, para que as leis não venham a ser feitas por quem não sabe do que se trata.

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