Não há muito para dizer sobre a data. Já foi quase tudo dito. A história moderna de Portugal fará o resto.
Porém falta fazer muita coisa, embora já tenha sido feita muita outra.
É necessário transmitir às gerações mais novas - sobretudo às que nasceram depois - a razão do acontecimento, as suas vicissitudes e revezes para que possam entender os seus pais e avós. Este referencial é determinante num jovem para que saiba de onde vem e para onde vai.
Tinha 19 anos e recordo-me da minha mãe a acordar-me bem cedo dizendo: Acorda! Está uma revolução na rua!
Voltei-me para o outro lado e disse: Finalmente! Já não era sem tempo!
Depois levantei-me, preparei-me e fui para o Largo do Carmo. Estive praticamente em todos os pontos nevrálgicos.
Foi aí que iniciei também a minha actividade político-partidária.
Sobre o cravo, diz-se que determinada senhora só tinha aquelas flores mas a realidade é mais plural. Quando os cravos surgiram, foi tudo muito rápido o que leva a creditar que existiram várias protagonistas no processo sem saber umas das outras e não apenas uma protagonista num determinado local, a determinada hora.
O cravo vermelho não tem conotação ideológica ao contrario do que se imagina. Nesta época era a flor mais comum. A seguir eram os cravos brancos. Sendo a flor que havia, foi adoptada. E a sua colocação nas espingardas tinha o objectivo de evitar disparos (atitude inteligente típica de milheres).
Quando os cravos surgiram, eu estava na zona da Cova da Moura, na Avenida Infante Santo, em Lisboa. E vi. As Vendedeiras do mercado de Alcântara vieram até lá e distribuiram os cravos pelas espingardas.
E foi patente a felicidade espelhada nos olhos dos militares e dos populares, perante o gesto.
Mais tarde alguns mancharam a sua beleza. Os mesmos que vieram a manchar o romantismo do 1º Primeiro de Maio.
Agora temos de trabalhar todos para corrigir os problemas da Democracia.
E os problemas da Democracia resolvem-se com mais Democracia.