terça-feira, novembro 30, 2004

Cegueira

Com as últimas sondagens publicadas, o país passou a estar mais consciente de que as percepções individuais sobre o estado da Nação e incompetência governativa são de uma evidência tal que é impossível sustentar qualquer posição favorável à equipa de Santana Lopes.
Neste momento, 55% do universo dos portugueses inquiridos (com projecção para o todo) consideram que a actuação governativa é ou muito má. É o pior resultado, mesmo desde António Guterres com a história do queijo.
Mais preocupante é a revelação de que, entre os apoiantes do PSD e do CDS/PP, 36% acham que a actuação do governo se revelou pior do que aquilo que esperavam.
Bem; resta esperar que o Presidente da República tome a iniciativa que há muito se espera, já amanhã, esgotado que será o prazo dado a Santana Lopes para apresentar uma solução governativa estável. De contrário, constará para a história como o pior PR da II República e o pior desde Carmona.
Evidentemente que um PM instável dificilmente tem soluções estáveis. Por onde tem passado tem gerado polémica.
E se o PM conseguir a remodelação?
Lá se vão os tachitos do Alentejo que recentemente foram conquistados pelos despeitados santanistas ávidos de vingança.
E se o PR resolver dissolver o Parlamento?
Lá se vão embora os santanistas alentejanos que andaram para aí a fazer rolar cabeças barrosistas.
A coisa está preta.
Estas mulheres e homens nunca mais aprendem que o poder é efémero e que tem de ser exercido com humildade.
Cegam de arrogância e petulância.
Quando acordam, é tarde.
Saiem cabisbaixos, com o rabinho entre as pernas.

segunda-feira, novembro 29, 2004

À bolina

O mal-estar geral vivido no seio da coligação está a assumir proporções alarmantes. Antes do anunciado pedido de demissão do ministro Henrique Chaves já a nossa região estava a viver momentos de agitação com anunciadas danças de cadeiras, em consequência das decapitações políticas que começaram a ter lugar em Évora.
O nosso distrito - apesar de geograficamente ser o maior - não tem lugares suficientes para atribuir a todos quantos aspiram ver reconhecida a fidelidade ao líder. E os despeitados não hesitam em apunhalar os que viram contempladas as suas ambições, furtando-lhes os lugares ambicionados.
Não podemos, todavia, medir todos pala mesma bitola. Existem mulheres e homens de carácter que estão na política para servir e não para se servirem. Esses aceitam participar em condições de dignidade e exigem escolher as suas equipas para garantia de estabilidade e máximos de eficácia e eficiência na aplicação das medidas de política.
Evidentemente que estas pessoas não estão disponíveis para que lhes sejam impostos medíocres ou elementos cuja única competência detida é aparecer por detrás do protagonista mais mediático que tem à mão, vivendo da sua sombra.
Hoje a política já não se faz a colar cartazes, colocar pendões, organizar caravanas ou gritar para o megafone. Faz-se pela afirmação da qualidade dos diferentes elementos propostos pelos partidos e em locais e horas devidamente planeadas e com intervenções credíveis.
Político que mente, fá-lo duas vezes no mesmo momento: a primeira e a última. Não mais deixa de ser mentiroso.
E à mulher de César, não basta sê-lo; é preciso parecê-lo.

sexta-feira, novembro 26, 2004

ZFB, já!!

O ministro das finanças - Bagão Félix - acaba de recuar na sua intenção de mexer no off-shore da Região Autónoma da Madeira. A garantia de que tal vai acontecer foi dada pelo deputado social-democrata do PSD, Hugo Velosa.
O ministro Bagão Félix está a tornar-se um diz-que-disse-mas-não-faz, tal é a quantidade de coisas que já anunciou e recuou. Veja-se o caso do director-geral das Contribuições e Impostos e do seu salário de príncipe.
Sendo assim, para o arquipélago-jardim, o artigo 46º do IRC irá ter mexidas para esse fim e os benefícios fiscais concedidos à Madeira não vão ser considerados para o cálculo do limite de 60% de tributação efectiva, como se prevê no artigo 86º do CIRC.
E lá continuamos nós - quais cubanos continentais - a largar do nosso bolso para que a Madeira continue a ser um Jardim.
Mas o mal não é de desprezar. Vejamos; se já existe uma ZFM (zona franca da Madeira), porque não criarmos uma ZFB (zona franca de Beja)?
Pelos vistos, fiscalmente falando, é o que está a dar.
Até temos uma versão sintetista e minimizada do ícon político madeirense - ali para os lados de Ourique - que pode ajustar-se que nem uma luva ao papel de protagonista numa batalha para a conquista (não dos Campos de Ourique, claro) da ZFB.
Vamos pensar nisso?

terça-feira, novembro 23, 2004

Consenso

Não são apenas os baixo-alentejanos que defendem a tese das potencialidades de desenvolvimento sustentado e sustentável da imensa região situada entre as linhas de Portel e a serra algarvia. À vasta lista de autócnes agregam-se outras pessoas com diferentes ideologias, formações, actividades e experiências nacionais e internacionais.
Passo a passo, novos elementos são adicionados ao cimento que une os tijolos da edificação desta unidade territorial indelevelmente identificada, dando razão às vozes que há mais de 50 anos dão alma à idéia de progresso gerido de acordo com o carácter próprio de uma cultura específica, à semelhança de outras regiões portuguesas com especificidades próprias. E são tão ou mais portuguesas que as restantes.
Todavia, existe abertura à inovação, à modernidade, ao progresso científico e tecnológico.
Reconheço que ao longo destes últimos 50 anos, muita coisa mudou para melhor no Baixo-alentejo. Mas existem muitas outras que não se concretizam em virtude das entropias que confrangem a iniciativa e empatam o progresso.
Gente conservadora, interesseira, gulosa que objectiva vantagens pessoais e não vantagens colectivas.
Mas vamos ao que interessa.
No suplemento do Diário Económico Fora de Série, de Outubro, sob o título Personagem: Juan Villalonga, podemos ler que este gestor que trabalhou para a Telefónica, para o BPA e para a Lusotur, afirmou que Portugal pode ter um rendimento per capita, num horizonte de dez anos, superior ao da Alemanha ou ao da França. E avança esclarecendo que a Península Ibérica foi a região do mundo que mais se desenvolveu nos últimos 25 anos e Portugal registou alterações económicas, sociais e culturais mais significativas do que a Espanha. E complementando a afirmação de fundo, reforça que o país e os seus decisores políticos e económicos devem ter uma idéia clara para os próximos 25 anos.
Curiosamente, quando lhe pedem para dar mais exemplos da sua visão para Portugal, afirma: Creio que uma cidade como Beja, por exemplo, se pode tornar uma espécie de Las Vegas da Europa. Hoje Beja é uma cidade do interior, perdida na região mais desertificada do país, o Alentejo. Beja tem condições para se tornar , dentro de oito anos, na Meca do entretenimento e de bem-estar da Europa. Não é difícil de a imaginar, neste horizonte de tempo, com oito campos de Golfe, quinze hotéis, cinco casinos, três centros de rejuvenescimento e três de ioga. Condições não lhe faltam. Mas será necessária a convergência de vontades políticas e empresariais.
Mais comentários para quê?

terça-feira, novembro 16, 2004

O momento

A preparação para a alternativa ao projecto político velho de mais de 25 anos que tem persistido no concelho de Beja impõe-se. Feitas as contas, estamos a 11 meses das eleições autárquicas e ainda se não vislumbram definições. Todos aguardam pelo momento M e não querem assumir o pioneirismo.
Não é fácil escolher o candidato à Câmara Municipal; é preciso que essa figura reúna vários requisitos de alguma complexidade, nomeadamente a satisfação dos critérios dos prosélitos internos das organizações políticas que os suportam mas, sobretudo, que disfrute de um potencial de estado de graça junto da opinião pública.
Para além disso, o factor qualidade passou a ser um recurso estratégico. Qualidade dos restantes candidatos à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal, cujo líder deverá reunir igualmente requisitos particulares de capacidade de liderança, condução de reuniões e de gestão de conflitos de interesses, independentemente da fidelidade política.
Porque os Presidentes de Junta de Freguesia têm assento por inerência na Assembleia Municipal, é igualmente importante que se saiba escolher bem as equipas candidatas para que suscitem a simpatia do eleitorado.
Até agora, o que se tem verificado é que existe uma tendência para a perpetuação da presença de figuras completamente inertes e outras pouco interventoras nos lugares das diferentes listas de candidatos, numa atitude de completo desprezo pela preocupação da fidelização de eleitorado e de conquista de novos eleitores.
Interiorizou-se uma cultura de pagamento às tropas. É candidato quem bajula o líder, quem diz sim a tudo, quem não tem idéias próprias. Quanto mais medíocre melhor, não vá o sujeito puxar o tapete.
A fabricação de actores secundários atingiu igualmente cenários de despudor. Colocam-nos a dizer coisas - como o fazia a prima Jorgina da rábula da ida à guerra do Raul Solnado - empurram-nos para a ribalta e fazem-nos assumir ridículos para proteger o líder de vexames. E, coitados, sem se aperceberem, extasiados pels luzes da celebridade, acabam por ser cobaias destinadas a morrer por uma causa superior.
É vê-los começarem a posicionar-se, a aparecer em encontros formais, como que a desenvolver um marketing pessoal do ó pra mim a brilhar.
O momento é decisivo. É chegada a hora de assentar, conceber a visão do problema, definir a missão, elencar objectivos tangíveis e arquitectar um plano estratégico.
A aplicação das técnicas de recrutamento e selecção usadas em gestão das pessoas pode contribuir muito para uma boa elaboração de listas de candidatos autárquicos. Assim se saiba elaborar bem as respectivas grelhas de definição de perfis.
Porque vamos mudar.

segunda-feira, novembro 08, 2004

As palavras

Começam a ser demasiadas as alusões às questões da limitação da liberdade de expressão, da violação do segredo de justiça, do direito de opinião, manifestação e indignação.
Fala-se cada vez mais no controlo dos weblog's (leia-se eliminar) e surgem notícias de pressões sobre os seus autores e mesmo despedimentos de alguns por influência do poder.
São demasiadas circunstâncias analógicas, sincronizadas e verificadas por unidade de tempo para que não possam ser classificadas como acidentais.
A comunicação social consegue fazer rolar cabeças e, como a vingança é um prato que se serve frio, mandam-se 50 jornalistas para a barra do tribunal. Mas há pessoas em lugares de nomeação que têm sensações orgásmicas na presença de um microfone ou de uma câmara de televisão. Ora, em êxtase, perde-se o controlo racional.
O delito de opinião, supostamente, foi banido do ordenamento jurídico português pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974. Porém, é público e notório que se tenta com demasiado despudor, controlar os órgãos de comunicação social nacionais por via das aquisições e fusões. Os regionais e locais começam a estar à mercê de caceteiros caciquentos.
Este medo da transparência, da verdade só pode incomodar quem não segue as regras da boa cidadania e do cumprimento das obrigações a que todos os cidadãos de um Estado de Direito constitucionalmente consagrado estão vinculados. Aqueles que acham que todos somos iguais mas alguns são mais iguais do que outros.
Segredos porquê?
Quem os conta? Não são os próprios prosélitos os piores dos delatores?
Gente desconfiada não é de confiança, diz o povo.
Preocupa-me este clima de suspeição que começa a viver-se no nosso país; faz-me lembrar outros tempos.
Tantas vezes apregoado, o direito ao contraditório nada adianta ao poder político instituído; não porque não o possa usufruir, mas porque mente tanto quando vem a terreiro que facilmente é despido e ridicularizado na praça pública. E diz igualmente o povo que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo.
O rei vai nu.
Não será restringindo a liberdade de expressão que se reduz a capacidade de intervenção; a história está aí, indelével, para o demonstrar.
É o comportamento dos poderosos que gera o comportamento reactivo da restante sociedade que se defende com a mais eficaz das armas: a palavra. É grátis, não polui e mata que se farta.
Porque as palavras são ideias em movimento quando são bem pensadas. Quando não, leva-as o vento (Paco Bandeira).
E o fruto proibido é o mais apetecido.
Abra-se o jogo; torne-se tudo transparente. Cultive-se a cidadania do tipo nórdico.
E tudo será bem mais fácil. Menos para os que precisam esconder.

terça-feira, novembro 02, 2004

Pormenor

O Parque da Cidade tem cada vez mais adeptos e visitantes.
De facto, os espelhos-de-água, o enquadramento, o espaço, são suficientemente aprazíveis para convidarem a um passeio solitário, ao convívio de amigos, à prática desportiva de manutenção, à descontracção da família, ao entretenimento dos mais jovens.
A imaginação encarrega-se do resto.
Pena é que as infraestruturas e equipamentos tardem em funcionar para apoio dos frequentadores. E não funcionam, em parte, porque a EDP não tem condições para fornecer a energia de que o parque necessita. Faz falta um PT específico porque o consumo supera as possibilidades de abastecimento a partir de outro já existente.
Um pequeno grande pormenor.
Outro é o do civismo. Os danos visíveis já provocados no património demonstram que há necessidade de um sistema de vigilância electrónica. A passagem periódica dos piquetes da PSP não é suficiente para dissuadir essa nódoa negra das sociedades urbanas que é a delinquência juvenil atentadora do património alheio, público e privado. A utilização abusiva dos equipamentos para crianças por jovens adultos vai rapidamente provocar a degradação dos mesmos. O cidadão comum não tem autoridade para impedir tais actos pelo que se impõe igualmente a presença de um sistema de vigilância privada.
Entretanto - e porque infelizmente a educação dos condutores se posiciona a níveis bastante baixos - a zona de acesso ao estacionamento do lado da mata e da escola C+S, é a que apoia a área das equipamentos para crianças. Supostamente, os veículos deveriam circular a velocidades nunca superiores a 30 Kms/hora e respeitar as passadeiras para peões que estão bem implantadas no solo. Prém, o que acontece é que se circula a velocidades excessivas, sem respeito pelas passadeiras e pelas crianças que, supostamente, deveriam poder circular naquele espaço com total despreocupação e liberdade. Pasme-se que alguns dos condutores desleixados e desrespeitadores das mais elementares regras de segurança rodoviária, são mães que transportam os seus filhos de e para o parque.
Perante um cenário destes, impõe-se um plano de sinalização adequado com limitadores de velocidade, o mais rapidamente possível.