terça-feira, dezembro 21, 2004

Meu caro António José Brito

A Quadra que se avizinha é propícia à formulação de votos. E não deixarei de o fazer tendo em conta a proximidade da maratona eleitoral de 2005.
Quando soube que ía ser nomeado para dirigir o DA, fiquei satisfeito e comentei de mim para mim: de todos os nomes, é o melhor.
Efectivamente, durante um período de cerca de dois anos, o DA evoluiu positivamente, globalmente falando. Sobretudo deixou de ser o órgão oficial do Partido Comunista e alguns colunistas políticos de cordel deixaram de ter espaço por falta de qualidade dos conteúdos.
Mais recentemente, começo a não ter paciência para ler os comentários da maioria dos colunistas residentes actuais, com especial destaque para os políticos, evidentemente. Conhecendo-os como os conheço, as suas publicações não passam de operações de marketing (do jeito das notícias a propósito do encontro Milenium com empresários da região, não sei se está a ver).
E aborrecem-me ainda mais os comentários de cordel dos meus correlegionários. Os outros não me incomodam; fazem o seu papel e há muito que ninguém lhes liga.
Com a aproximação da batalha eleitoral - que durará mais de um ano - a imparcialidade do DA deve ser uma bandeira. Outra das bandeiras deve ser a qualidade e oportunidade das opiniões dos comentadores políticos. E sendo socialista, muito desgostoso ficaria se visse o DA deixar de ser comunista para passar a ser socialista.
Sei que não é fácil dizer a algumas pessoas que o que escrevem não reúne a substância necessária e suficiente; os mais ortodoxos acusá-lo-íam de censor. Mas um director de um jornal com a projecção do DA tem de assumir o bom e o mau.
Por mim, continuo a pensar que é capaz e, por isso, digo aqui aos meus prosélitos que escrevam apenas quando tiverem algo a dizer com interesse para os outros e não quando têm necessidade de atingir alguém ou um qualquer orgasmo intelectual.
A partir de agora, os socialistas não podem proferir nem banalidades nem enormidades.
Para si, António, bom trabalho e Boas-Festas, extensivos à totalidade dos seus colaboradores.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Zerinho

Não têm conta as vezes que o tema foi abordado no F&O. Não têm conta as deixas que os comentadores foram formulando ao longo do tempo. E afinal parece confirmar-se aquilo que ía sendo evidente: o Engº. João Paulo Ramoa corre o risco de ficar para a história classificado como sendo o Governador Civil do Distrito de Beja do pós 25 de Abril que menos produziu.
Consegue ultrapassar pela negativa Luís Serrano e Manuel Masseno no seu 2º mandato.
Uma pobreza confrangedora.
Tendo em consideração o seu status, formação e condição de vida, a sua ambição de encabeçar a lista por Beja do PSD às intercalares e de ser candidato a candidato à presidência da Câmara Municipal, convenhamos que é muito pouca obra para tão grande estômago.
As incoerências dos discursos e entrevistas, a passividade face às nomeações, deixaram-no sempre mal na pose oficial. Então em matéria de desenvolvimento sustentável do distrito, nem é bom falar. Nunca se conseguiu perceber bem quando queria estar em sintonia com o Governo e em sintonia com as suas ambições.
Por seu lado, o gabinete ía fornecendo a imagem de condomínio fechado que passeava de Volvo sempre que havia uma visita de Estado, uma inauguração ou um bailarico. Péssimo retrato para aqueles que mal conseguem sobreviver com o rendimento auferido cada mês, depois de lhe terem sido sugados os impostos.
Há muito que defendo o fim do Instituto Governo Civil; a sua existência não faz qualquer sentido numa democracia que se quer amadurecida. Todavia, tal só pode acontecer com um processo de reforma do Estado em que se implante um sistema sério de regionalização, em consonância com as sensibilidades das populações e não com os interesses das elites dominantes.
Imagine-se em Beja, por exemplo, a engenharia civil, obras públicas e privadas, sob o controlo de um clã familiar.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

O povo

O PR veio dizer ao país das razões que sustentaram a sua posição de dissolver a AR, sem demissão do Governo.
Nestas circunstâncias - e no cumprimento da Constituição - o Decreto de dissolução do Parlamento será assinado e produzirá os efeitos que se conhecem, dentro em breve.
O Governo continuará em funções mas advertido de que, se continuar no abuso das nomeações, o PR agirá e torna-las-á nulas.
Os comentadores apressam-se a esgrimir das suas visões e interpretações, consumindo tempos de antena nos diferentes canais de televisão superiores aos do PR, Governo e partidos, no seu conjunto.
Excepção para os debates que começam, confrontando os princípais protagonistas do espectro político-partidário.
Mas até agora nada de novo é apresentado pelos dois partidos da maioria: PSD e CDS. A pré-campanha é feita com ênfase na demissão absurda da AR e no facto de o OE ter sido aprovado, porque é bom.
Já me soa a cassete. Os partidos da maioria ainda não perceberam que o PR dissolve o Parlamento porque este já não está em condições para fornecer uma solução competente de governo.
O esforço de criação de factos políticos não consegue agitar os eleitores que consideram que o acto do PR é um bom acto e demonstram que os portugueses atingiram a maturidade política.
A serenidade que demonstram é extraordinária e os serviços do Estado exibem um profissionalismo que destoa das críticas que o actual governo sempre lhes atribuiu.
Queiram ou não queiram, vamos a votos.
O poder retornou ao seu legítimo proprietário: o povo.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Interessante

A entrevista concedida em exclusivo por Mourato Grilo - presidente do Conselho de Administração da EDAB (Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja) - Quinta-feira passada à Rádio Voz da Planície, revelou um pragmático muito seguro, aparentemente despreocupado com a fidelidade política.
Esta aparente despreocupação, a confirmar-se, pode trazer-lhe amargos de boca, à semelhança do que se passa em todos os governos com uma parte representativa dos agentes nomeados que se não deixam intimidar pelas pressões dos correlegionários para cometerem deslizes.
Aprecio pessoas assim.
Deu-nos uma perspectiva geral do estado do projecto e do seu funcionamento, bem como uma síntese do plano, coisa que até agora ninguém tinha feito.
Foi claro quanto a alguns aspectos, nomeadamente ao perfil que entende terem de possuir os restantes membros do Conselho de Administração. Esse perfil, os actuais elementos - da confiança do presidente da Câmara Municipal de Oourique - não têm. Pode mesmo ler-se nas entrelinhas que tais elementos são confrangedores para a prossecução eficaz e eficiente da missão.
O desenho do CA não é, para Mourato Grilo, o mais adequado. Prefere um cenário idêntico ao que utilizou na construção do Centro Cultural de Macau (que tive oportunidade de visitar 2 vezes); isto é, baseado numa equipa de projecto de execução de obra, em sentido lato.
Esclareceu-nos que o lançamento da empreitada não arrancou porque o Estudo de Impacto Ambiental só termina em Janeiro, que as ligações às pistas (corredores) não resultam problemáticas, embora tenham sido suficientes para o atraso da vinda do LNEC e que o Plano Director está aprovado, exceptuando-se a parte urbanística.
Questões relacionadas com a certificação das diferentes autoridades (INAC e NAVE) estarão ainda em processo borucrático.
Como a EDAB não possui tecnoestrutura, está a fazer outsourcing em economia e sustentabilidade do projecto.
A situação dos acessos do lado de S. Brissos já tem compromisso municipal e o IEP - como não consegue fazer andar o IP8 - tem dinheiro para aplicar na via de S. Brissos com que se comprometeu, incluindo a rotunda.
Quanto ao atraso da construção dos edifícios, afirmou que o lançamento do projecto está para breve. Só existe o programa preliminar dos edifícios que é do dono-da-obra. A propósito declinou responsabilidades sobre a aquisição da célebre vivenda indiciando discordar da solução.
Opinou sobre a necessidade da constituição de um quadro de pessoal e referiu-se ao exemplo EDIA (que conheço por ter lá colaborado).
Rematou dizendo que o governo (este ou outro) tem de definir como quer o Contrato de Concessão. Este aspecto classificou-o como decisivo para o sucesso do projecto.
Muita coisa ficou por dizer mas muita foi dita. E a que foi dita já provocou escaldões de orelhas em algumas pessoas.
Não admira; a verdade, mesmo dolorosa, aproxima as pessoas; a mentira afasta-as.
A região ficou a ganhar e talvez a intervenção de Mourato Grilo aja como um abalo telúrico de dimensão relativa, capaz de sacudir o sistema político do PPD/PSD/CDS/PP no distrito. Governador civil incluído.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Finalmente o PR encheu-se de coragem, chamou os bois pelos nomes e comunicou ao PM da sua intenção de dissolver a Assembleia da República. Intenção porque faltam os procedimentos legais que envolvem o processo.
Fiquei espantado com a serenidade com que o país encarou a crise política. O comportamento dos portugueses superou as minhas expectativas, numa demonstração de maturidade acima dos padrões a que estamos habituados.
E o país não parou; continua a trabalhar (não obstante os feriados, claro está). Os serviços públicos - salvo uma ou outra excepção resultante de actos de administração deficientes protagonizados por nomeados de bazar chinês - mantêm a rotina e as actividades de que foram incumbidos de realizar, numa demonstração inequívoca de que os funcionários e agentes são profissionais competentes e dedicados, contariamente ao que o PM e a Tutela têm querido fazer crer para desajeitadamente justificar o excesso de despesa com salários.
Desgraçadamente, com a continuação da plenitude de funções do governo, as nomeações de novos elementos santanistas para substituir barrosistas nos nossos serviços acabam por se concretizar. Pelo menos, com a mais que garantida mudança de política, essa gente arrogante, petolante e agressiva - que nem aos seus perdoa - sairá de crista derrubada mas não deixará de causar entropias, já que indemnizá-los sai caro. E a Nação já tem tenreiros(1) que bastem. Pelo menos não entrarão a fazer sangue como já se adivinhava, tal é a carga de vingança que acoplaram à baioneta.
Por cá, já pareciam baratas tontas desorientadas pelas queimaduras provocadas pelo agarrar desastrado das asas dos tachos fervilhantes, ainda antes de terminada a cozedura.
Política é isto mesmo: ninguém tem cadeira de fundo térmico.
(1) Bezerros mamões.