segunda-feira, maio 02, 2005

Direito à indignação

No passado Domingo - 1º de Maio - assistimos a uma reportagem nos noticiários do início da noite que dava conta da inauguração do maior carrilhão de Portugal, instalado num moderno e grandeoso local de culto católico romano, num concelho das proximidades de Lisboa, a que não faltou o Cardeal Patriarca de Lisboa.
Até aqui, tudo bem.
O que me espantou foi a chegada de um helicóptero da força aérea transportando as imagens de Nossa Senhora de Fátima e dos três pastorinhos, imagens essas levadas até quem de direito por 4 militares da FAP.
Sendo um cidadão agnóstico - embora de educação católica romana - não posso deixar de manifestar o meu desagrado por tal espectáculo. E porquê?
Não é a cerimónia e a sua magnitude. Não é a imponência megalómana do complexo. Não é o orgulho de quantos contribuiram para a obra. Não é a religião.
O Estado Português é laico. E enquanto tal, não pode, não deve, patrocinar oficialmente esta ou aquela religião, mesmo que seja a que maior expressão tem.
Evidentemente que os militares dos três ramos das forças armadas terão as suas convicções. E sempre tiveram apoio espiritual, mas apenas de uma religião.
O problema é que o Puma da FAP voou pago pelos impostos de todos os portugueses, incluindo aqueles que professam outras religiões que não a Católica Apostólica Romana. E os militares da FAP - pagos pelo OE porque em serviço - prestaram uma imagem tendenciosa quando é suposto que a não tenham.
Eis a razão de ser da minha justa indignação. Este tipo de situações - como é o caso de continuar a sentar à direita das mesas de eventos solenes e em cátedra especial, a autoridade religiosa da ICAR, por força protocolar - têm de terminar sob pena de descredibilização do regime.
A matéria que acabo de focar - a do helicóptero da FAP - deve ser estudada pelo Senhor Ministro da Defesa no sentido de ser feita uma avaliação da correcção do acto num quadro do Estado Democrático Laico. E a questão de sentar bispos católicos romanos em todas as cerimónias protoculares, já não faz qualquer sentido num Estado que proclama a liberdade religiosa no seu texto constitucional.

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