segunda-feira, maio 16, 2005

O que almejamos para Beja

O concelho tem aproximadamente 35000 habitantes dos quais cerca de 30% são activos (10500). Os restantes 24500 exercem actividades geradoras de rendimentos marginais à contabilidade nacional, estão desempregados, doentes, aposentados ou ainda não considerados disponiveis para emprego (os que se encontram em idade escolar). Sendo assim, 10500 lutam para gerar a riqueza necessária ao sustento social de todos.
A cidade e o concelho perderam atractividade. Curiosamente, os visitantes oriundos de concelhos industrializados, questionam-se como pode haver tantos Mercedes e BMW sem haver indústrias.
Em todo mundo, as cidades que viveram e vivem o desenvolvimento foram as que apostaram numa estratégia de captação de talentos de visão inovadora. A mais próxima de nós é Barcelona e a aposta que mais atraiu esses talentos, foi a música.
O que se passou é que foi percebido que os talentos querem e têm uma cultura urbana. Beja é preponderantemente rural. Medievalmente rural.
Não basta proclamar que tem qualidade de vida para atrair talentos. A qualidade de vida é um sub-sistema da qualidade e a qualidade é defenida pelos clientes e não pelos competidores. A estes últimos resta-lhes a monitorização para perceber o que aqueles querem e ir ao encontro dos seus desejos. A isto se designa de vantagem competitiva.
É necessário dotar o concelho de mais e melhores pólos de atractividade que saceiem o apetite dos talentos, de modo a que sintam vontade de se fixar.
Em 2001, o concelho de Beja perdia entre 14 e 17 residentes por dia. O único concelho do distrito que não perdeu pessoas foi Castro Verde.
Em geral, o Alentejo divergiu da União Europeia durante a execução do QCA III, em sintonia com o que tinha acontecido com os quadros anteriores. E foi sempre objectivo 1.
No próximo enquadramento para o período compreendido entre 2007 e 2013 continuará a ser objectivo 1. Mas a Região Plano já é híbrida; tem territórios para além do Alentejo que vêem na sua integração a única hipótese de vir a beneficiar de uma considerável fatia financeira do bolo alentejano.
A UE vai passar a apostar mais nas pessoas e menos nas obras. Daí o choque tecnológico.
O CT faz-se com inovação para o que já existe e para o potencial que urge concretizar e que constitui nicho de mercado. Mercado que não está nem no concelho, nem no distrito e pouco no país. O mercado é o mundo.
Beja tem potencial de desenvolvimento mas para o concretizar necessita de uma cidade forte e sustentadamente urbanizada com efectiva oferta em qualidade de vida assente nos seis vectores estratégicos reconhecidos pela UE: atracção, competividade, inovação, emprego, conhecimento e convergência.
O executivo que sair das próximas eleições de Outubro tem de registar como missão, o alcance exequível de cada um daqueles objectivos mensuráveis; isto é, quanto quer alcançar para cada um, ao longo de 4 anos.
A política do concelho dos últimos 25 anos cavou irremediavelmente o fosso entre a urbanidade e a ruralidade, fazendo prevalecer esta sobre a primeira. E os supostos talentos que se instalaram por iniciativa dessa política, foram maioritariamente de áreas de competência não geradoras de economias competitivas, acabando por fazer parte das elites consumidoras de recursos e não das geradoras de multiplicadores de riqueza.
Agora é preciso mudar de estratégia.
A alternativa terá de ser corajosa e até tecnocrata, sem descorar a política. Os vícios são muitos. Quando as pessoas se perpetuam no poder, acabam por ser dominados por este e pelas pressões corporativas. É notório que há muito que a capacidade de mudar se perdeu.
A edilidade tem cerca de 1000 funcionários (entre públicos aurtárquicos e das EM's). Representam 0,3% da população residente e 10% dos verdadeiros activos do concelho. É um património humano ineficaz e ineficiente porque excessivo, mal organizado, mal comandado e constitui um capital intelectual mal gerido e mão-de-obra mal aplicada.
Evidentemente que nem tudo é mau. Há muito de bom. No entanto o saldo é francamente negativo e a prova é a manutenção da mediocridade por falta de capacidade para mudar.
Agora é mesmo necessário fazê-lo. Se não o fizermos, os nossos filhos não nos perdoarão.

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