segunda-feira, julho 26, 2004

Quem tramou as OGMA II?

Recordo-me do momento em que o Ministro da Defesa anunciou efusivamente que a reestrturação das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico passaría pela instalação em Beja das OGMA II, tendo em consideração o espaço e as infraestruturas existentes na Base Aéria nº11.
Sabemos das dificuldades atravessadas por aquela empresa, dificuldades essas ligadas a dois aspectos relevantes: gestão deficiente e oscilações de mercado. Mas o momento é de grande expectativa, tendo em consideração as últimas encomendas obtidas em concurso; uma para a construção de aviões ligeiros civis monomotores (uma encomenda belga) e outra para a reparação dos C 130 da Força Aérea Francesa. 
Outras poderão estar em marcha mas, com muita dificuldade, aquela unidade poderá dar-lhes resposta com os meios disponíveis.
Convém aqui dizer que as OGMA (empresa civil) funcionam com capital em conhecimento disponibilizado pela Força Aérea Portuguesa e até parte importante do hardware (instalações, máquinas e ferramentas) são sua propriedade.
Quando olhamos para as instalações de Beja - imponentes, construídas pelos alemães  e a degradarem-se por nunca terem sido utilizadas - ficamos estupefactos de como é possível no nosso país aceitar-se uma tão grande falta de planeamento estratégico e laxismo, muitas vezes para proteger interesses instalados envoltos em núvens acinzentadas.
A instalação em Beja de uma nova unidade produtiva das OGMA na denominada "Fábrica" , acrescenta um novo elemento de atractividade ao projecto do Aeroporto de Beja, já que vai ser necessária a existência de uma unidade de manutenção de aeronaves e quem melhor do que aquela organização para satisfazer necessidades civis e militares na matéria.
Que melhor ponto de convergência pode existir entre a Aeronáutica Civil e a Força Aérea em Beja do que as OGMA II?
Tal como a EDAB, as OGMA marcaram passo relativamente à hipótese sem competidor de instalação de oficinas especializadas em Beja.
Não se sabe em que gaveta foi o projecto arrumado, porque foi arrumado e porque é que o ministro se calou acerca dele. Porém, não podem os bejenses calarem-se igualmente porque tais projectos são determinantes para o desenvolvimento sustentado da região e para o aumento demográfico da mesma. Acresce que o desenvolvimento sustentado que interessa à região é, exactamente, aquele que se alicerça na tecnologia de ponta que tem maior valor acrescentado e provoca a formação dos activos em capital humano de forma continuada.
Uma matéria interessante para ouvirmos o senhor Governador Civil de Beja pronunciar-se a propósito.

quinta-feira, julho 22, 2004

Factos & Opiniões

Há vários anos que este programa da Rádio Voz da Planície, em Beja, surge no éter às Terças-feiras, das 18.00h às 19.00h, de Setembro a Julho, normalmente conduzido pela jornalista Inês Patola.
Composto por um painel de três comentadores residentes de sensibilidades políticas diferentes, o programa pretende constituir-se como um forum de debate sério e esclarecedor, disponibilizando aos seus elementos a possibilidade de se assumirem como opinion makers.
De acordo com as informações disponíveis, o auditório do Factos & Opiniões é expressivo e constituído por uma massa de ouvintes fiéis muito estável e sabe-se que os poderes instituídos na cidade e concelhos limítrofes servidos pela antena da RVP, bem como os partidos políticos, estão muito atentos às opiniões formuladas programa a programa.
Essa atenção já esteve na base de várias mudanças de rumo nas políticas para a região, o que constitui factor de responsabilidade acrescida para os comentadores, vendo-se estes na obrigação de elevar a fasquia da qualidade das suas intervenções e aumentar a abrangência das mesmas.
Na passada Terça-feira concretizou-se o último programa da temporada. Regressará em Setembro.
Está necessitado de um patrocinador comercial para custear as despesas de produção. Isso permitiría melhorar o serviço público prestado pelo programa e atenuar a pressão das despesas de produção e do tempo de antena que, não sendo significativas, não deixam de contribuir para o peso global dos custos operacionais, sempre pesados numa estação local.
Estamos de férias - o programa, leia-se - mas, no que me toca, vou continuar activo. Aqueles que me ouvem regularmente e que consultam a minha página, podem tecer comentários, sugerir temas, abordar problemas. Para tanto, basta clicar em comentários no final do texto e escrever.
Todos serão bem-vindos.
 

segunda-feira, julho 19, 2004

Equilíbrio instável

As políticas regionais estão naturalmente condicionadas pelas macropolíticas. Estas definem a idéia, a visão, a missão e os objectivos.
Quando se entra em gestão ou nomeia um novo Primeiro Ministro, existem compassos de espera inultrapassáveis que atrasam todos e quaisquer processos dependentes de decisões das respectivas tutelas. Por vezes coisas bem simples tornam-se complicadas e adquirem custos demasiado significativos para as regiões (que não há maneira de existirem no concreto, com excepção das autónomas).
O processo de substituição do governo - independentemente de se gostar ou não - numa análise um pouco mais à distância e a frio, afigura-se interessante, inovadora em Portugal e detentora de uma reengenharia de processos digna de um case study.
Veja-se que, mesmo do ponto de vista da imagem, tudo correu como planeado. Sabe-se que em qualquer congresso ou seminário, à excepção de questões de pormenor relevantes, as conclusões estão previamente elaboradas e deliberadas.
O Dr. JMDR sai pela porta da frente; não abandona o navio perante a ameaça de naufrágio. É chamado a prestar um serviço público transnacional que dignifica e honra a Nação e a Nação é-lhe grata por isso.
Porém a realidade é outra e está dissimulada como tantos epísódios da nossa história de mais de 900 anos. O governo Barroso tinha uma morte anunciada; indicadores mostravam um capital de imagem deficitário e uma popularidade dos ministros a bater no fundo. Os desaires acumulavam-se e redundavam em fracasso eleitoral a meio do mandato.
Ainda atordoado pela felicidade passageira (não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe) oferecida pelo Euro 2004 e pelo desempenho geral de todo o evento, o povo dá indícios de serenidade. As Instituições também parecem funcionar e o país entrou de férias, apesar da substituição do governo e do PM ter sido operada em tempo recorde.
Uma de duas coisas pode estar a acontecer: ou o povo considera que tudo está bem, em equilíbrio, ou está à espera da oportunidade de ouro para desferir o golpe de misericórdia sobre os políticos da Terceira República.
A reentrada esclarecerá o que vai na alma do verdadeiro titular do poder.
Melhor do que as minhas palavras, o mail de um amigo pode espelhar o sentimento contido e expectante, através de uma das alegorias da tartaruga, de autor desconhecido:

Enquanto suturava uma laceração na mão de um velho lavrador (ferido por um caco de vidro indevidamente deitado na terra), o médico e o doente começaram a conversar sobre Santana Lopes. 
E o velhinho disse: 
- Bom, o senhor sabe...o Santana é uma tartaruga num poste... 
Sem saber o que o camponês quer dizer, o médico perguntou o que era uma tartaruga num poste. 
A resposta foi: 
- É quando o senhor vai por uma estradinha e vê um poste da vedação de arame farpado com uma tartaruga equilibrando-se em cima dele. Isto é uma tartaruga num poste... 
O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação: 
- Você não entende como ela chegou lá; 
- Você não acredita que ela esteja lá; 
- Você sabe que ela não subiu para lá sozinha; 
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá; 
- Você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá; 
- Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá! 
Eu acrescento: Sem escadote.

  
  

sexta-feira, julho 16, 2004

Porquê?

Ainda o não tinha revelado.
Os que me não conhecem, não o sabem.
Aqueles que ouvem a Rádio Voz da Planície às Terças-feiras, das 18.00h às 19.00h, estão mais familiarizados com as minhas convicções, tal como estarão com as dos meus dois outros companheiros de programa: Susana Sobral e Castro e Brito, a quem rendo daqui as minhas homenagens.
Sou socialista.
Há 30 anos.
Começei com 19, com Mário Soares, a quem devo a minha formação prática. A teórica, durante a licenciatura, a Adriano Moreira. São estas as razões pelas quais costumo afirmar sem vaidade que tive o privilégio de uma escola política de elite.
Aprendi a respeitar idéias, opiniões e pessoas. Por isso tenho amigos em todos os quadrantes.
Na minha vida já saboreei vitórias e derrotas, alegrias e frustrações. Contribuiram para uma economia de experiência que não será das melhores mas que ombreia com elas.
O Partido Socialista - independentemente de se gostar dele ou não - é uma instituição. Merece ter uma liderança de qualidade que espelhe, por uma lado, evidente capacidade estadista; por outro, a cultura, os valores, os princípios, a escola, a ética, a deontologia a ideologia.
O PS é, por tradição, uma Organização aberta; um sistema aberto. Ultimamente andou arredado das suas competências-chave (aquilo que os distingue dos restantes) e viu-se numa encruzilhada de combinações que não resultaram numa oposição clara, credível, poderosa, liderante e protagonizadora.
As sondagens e os últimos resultados eleitorais (europeias), têm vindo a dar sinais de empatia forte por parte dos eleitores mas não em função do líder cessante e da sua equipa. De facto, sabe-se que o poder não se conquista; o poder perde-se.  
E porque a coligação estar a perder continuadamente o poder é que J.M.D.B. aproveitou para sair pela porta da frente, à custa de uma lebre que tem tanto de igénua como de inteligente. Como pode alguém, a partir de agora, criticar António Guterres?
Se o PS está a capitalizar as preferências do eleitorado (enquanto partido detentor de um capital de imagem sem precedentes), é chegado o momento de apostar no líder que seja capaz de demonstrar sentido de estado, capacidade de liderança, espelhe a cultura organizacional do Partido e aplique o recurso que é, exactamente,  aquele valor que releva para o eleitorado e que, de facto, é um dos activos políticos mais valiosos que detém (atenda-se às sondagens).
Não tenho rigorosamente nada contra José Sócrates; bem pelo contrário. Mas o mediatismo não é suficiente para fabricar um líder e um estilo. O perfil é um misto de inato e de adquirido. Essa é a lacuna de Sócrates. Acresce que, à semelhança de Ferro Rodrigues - que nunca contou com ferristas - também ele não tem socráticos. Conta - tal como o seu antecessor - com pastilhas elásticas.
Eis as grandes diferenças relativamente a João Soares. Não tem pastilhas elásticas e conta com um grupo de socialistas de renome, estável, coerente, activo, detentor de um capital intelectual relevante, que não procura lugares, donde não consta que hajam dissidentes e que constituem uma massa crítica sustentada e sustentável, capaz de garantir o apoio ao líder e a formação de um autêntico governo-sombra.
Por isto, o meu apoio a João Soares.

quarta-feira, julho 14, 2004

Menos ais

As cidades que conheço do nosso país, na sua maioria, possuem uma logísta de salubridade urbana que lhes permite manter um padrão de qualidade ambiental aceitável. As excepções confirmam a regra.
Ao nível do equipamento, esta logística nuns casos é melhor, noutros nem por isso. O destaque concretiza-se pelas equipas humanas.
Há anos que Beja criou fama de cidade limpa; há anos que se deitou a dormir à sua sombra.
A época estival denuncia a fragilidade da logística de salubridade: as ruas não são lavadas, a recolha contentorizada falha, as voltas de recolha são cortadas, não há fiscalização do trabalho, o lixo transportado pelo vento acumula-se nas pracetas, os carros de aspiração são antecedidos por funcionários equipados com sopradores que levantam enormes poeiredos, as areias não são retiradas dos passeios e ruas depois das obras terem sido realizadas, as sargetas entopem.
A meu ver já atingimos um estado de despodor e laxismo sem precedentes.
A Praça da República - supostamente um espelho do que de melhor se pode ter na matéria - não vê limpeza há meses e nunca foi lavada. O cenário está implantado por debaixo do nariz de Carreira Marques.
Se a amostra está exposta à porta do "estabelecimento", não admira que o "armazém" apresente deficiências ainda maiores.
A Câmara possui viaturas de dimensões diferentes, equipadas com automatismos de aspiração e lavagem. A aspiração funciona; os equipamentoas de lavagem, em muitas delas, foi retirado.
Seguramente que nas vias mais estreitas, as viaturas não passarão. Mas existem mangueiras e equipamentos manuais para resolver esses problemas.
O lixo doméstico acumula-se à volta dos contentores, sejam de recolha seleccionada o tradicionais porque há menos voltas de recolha e as que existem são encurtadas. Mas vemos as equipas paradas à hora de serviço em tudo quanto é café aberto, o que denuncia falta de acompanhamento e fiscalização por parte das chefias dos serviços respectivos.
É urgente devolver à cidade a qualidade urbana que tinha; os padrões de salubridade; os níveis de manutenção; a conservação do mobiliário urbano.
Os critérios de qualidade têm de ser aplicados à gestão da coisa municipal, sendo que qualidade é aquilo que o cliente tem como expectativa relativamente a um determinado bem ou serviço, sendo ele (cliente) quem a define. Os clientes, no caso, são os munícipes. Às organizações (leia-se Câmara, EMAS e outras), cabe-lhes ir ao encontro dessas expectativas e, sempre que possível, surpreender os clientes, superando-as.
O primeiro passo é a abertura do município aos munícipes. Pode parecer um lugar comum mas é a chave que abre a porta do sucesso.
Aos autarcas - deputados municipais e vereadores - cabe-lhes andar mais a pé, de bicicleta e de autocarro pela cidade e frequentar mais lugares públicos para não perderem o contacto com a realidade. A cabeça etá enterrada há demasiado tempo na areia.

sexta-feira, julho 09, 2004

Na linha

No passado dia 06 de Junho, inaugurou-se a ligação ferroviária Beja / Lisboa / Beja, pela ponte 25 de Abril, com términus na Estação do Oriente.
É uma acontecimento histórico de relevância sócio-económica para a região. Porém, Governador Civil e - pelo menos - autarcas dos concelhos servidos pela linha, nenhum deles se dignou a emprestar alguma solenidade e reconher a importância do investimento estruturante realizado pela REFER.
É preciso não esquecer que a linha passa pela base aérea nº 11 - onde será (?) concretizado o projecto do aeroporto de Beja - e que pode, a partir dela, estabelecer-se a ligação ao terminal portuário de Sines.
Sabe-se que, em breve, se iniciará a sua electrificação até Beja e efectuarão algumas pequenas obras na via que permitirão aumentar a velocidade de circulação.
Desta vez, a ferrovia ganhou à rodovia (IP 8).
Mas a utilização do combóio - 2º transporte mais seguro do mundo - obedece a critérios de atractividade e qualidade. E duas questões se colocam neste momento e que não têm relação com a REFER mas com a CP, a saber: Horários e preços.
O horário não é, efectivamente, atractivo. Anteriormente, o Inter Cidades partia às 07.45 de Beja, o que permitia chegar a Lisboa - Terreiro do Paço, a horas muito favoráveis.
Agora o Inter Cidades parte de Beja às 08.26 e chega à Estação do Oriente às 10.45h o que manifestamente anula a utilidade da manhã para, por exemplo, tratar de assuntos na Administração Central ou estar presente em actos médicos.
Evidentemente que não é fácil conciliar interesses e horários, sobretudo quando se tem uma linha com muitos quilómetros de via única e um utilizador privado como é o caso da FERTAGUS. Mas tem de ser feito.
Uma segunda questão prende-se com o tarifário: 13 euros por bilhete simples,ida e volta 26 euros com 20% de desconto, o que dá 20.80 euros. Subiu mais de 3 euros com a alteração. Este tarifário reduz a vantagem competitiva face ao automóvel e face ao transporte em autocarro expresso.
Estas duas circunstâncias afectam a possibilidade de aumentar a quota de clientes maiores de 12 anos e menores de 65; isto é, do grupo de pessoas que não têm direito a qualquer redução de preço. Menores de 12 anos, cada vez há menos e maioresde 65, cada vez há mais.
E não me parece que o simples facto de se ter desclassificado o Inter Cidades da hora do almoço para Regional, seja suficiente para compensar esta falta de atractividade conquistadora de novos adeptos do transporte ferroviário.
Espero que o bom-senso e as autoridades sejam capazes de transformar em realidade o que é evidente. Provavelmente ainda não deram pela mudança porque há muito que deixaram de andar de comboio.
E quando se deixa de andar de comboio ou de autocarro, deixa de se conhecer a alma do povo.

segunda-feira, julho 05, 2004

FantasPax

Não, não vai haver festival de cinema de Verão em Beja. Aliás: não vai haver nada que se relacione com animação, durante o Verão. Ou quase nada.
Há muito que a cidade morreu. Aos fins-de-semana, na época dos santos populares, férias estivais, etc.,é a debandada geral.
Está triste, empoeirada e seca, sem vida.
Nem o Pólis conseguiu criar pequenos espaços públicos atractivos. Resta-nos aguardar a conclusão do Parque da Cidade.
Iniciativas por parte do município, Região de Turismo, nem vê-las. Para que houvesse um pequeno estádio virtual para acompanhar os jogos do Euro 2004, foi necessário que uma microempresa familiar tomasse a iniciativa de concretizar a idéia e colocar um ecrã gigante no Parque de Feiras e Exposições. Com entradas gratuitas!
Não fosse isso e mais uma vez aquelas instalações estariam desertas, já que não é com "alternativas" que se anima um espaço tão grande nem com pagamento de entradas para coisa nenhuma.
Não há um concerto de música de câmara ao ar livre, uma exibição teatral; um programa de televisão em directo; uma opereta; um espectáculo musical ligeiro; um festival; nada!!
Beja tornou-se triste, com autarcas cinzentos no Verão e bolorentos no Inverno. Sem idéias e sem projecto.
Por seu turno, a opisição perdeu o brilho. Não consegue - ou não quer - defender projectos, denunciar políticas e actos de administração da coisa pública errados, apresentar idéias.
Esta coexistência pacífica está a matar a urbe, a diminuir-lhe a qualidade de vida e a afastar os munícipes da participação na vida política do concelho.
É preciso mudar de atitude.
Falta qualidade na política autárquica.

editado em 2004-07-05